Resumo
do relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação
para o século XXI
Educação, Um Tesouro
a descobrir
B.Delors
Para atribuir um título a este relatório, a Comissão
recorreu a La Fontaine e a uma das suas fábulas.
“O lavrador e seus filhos”:
“Evitai (disse o lavrador) vender a herança,
que de nossos pais nos veio. Esconde um tesouro em seu
seio.”
“Mas ao morrer o sábio pai fez-lhes esta confissão:
— O tesouro está na educação.”
“Cabe ao professor
transmitir ao aluno, o que a Humanidade já aprendeu acerca de si mesma e da
natureza, tudo o que ela criou e inventou de essencial.”
A
questão central da democracia é saber se queremos, se podemos participar na
vida em comunidade. Querê-lo depende da responsabilidade de cada um.
A
democracia fez conquistas nos espaços dominados anteriormente pelo totalitarismo
e pela arbitrariedade mas tem tendência para se acomodar ou tornar pouco
estimulante em áreas onde está institucionalizada.
Os
progressos no conhecimento devem servir de instrumentos, de promoção do gênero
humano.
Nesta
globalização em que vivemos existem vários tipos de tensões que é necessário
ultrapassar, nomeadamente entre o global e o local, o universal e o singular, a
tradição e a modernidade, as soluções a curtos e a longo prazo, a indispensável
competição e o cuidado com a igualdade de oportunidades, o extraordinário
desenvolvimento dos conhecimentos e as capacidades de assimilação pelo homem.
Estas
tensões obrigam o homem a lutar para manter a sua identidade, a sua
singularidade, a sua cultura, os seus valores e ideais mas também a avançar em
direção ao conhecimento.
Se
não vejamos:
-
Na tensão entre o global e o local, o individuo ao tornar-se cidadão do mundo,
luta para não perder as suas raízes e participar, ativamente, na vida do seu
país e das comunidades de base.
-
Na tensão entre o universal e o singular, a mundialização da cultura vai-se
realizando progressiva mas parcialmente. É inevitável que se corram riscos, do esquecimento
do caráter único de cada pessoa, de sua vocação para escolher o seu destino e
realizar todas as suas potencialidades, mantendo a riqueza das suas tradições e
da sua própria cultura.
-
Na tensão entre tradição o individuo tem que se adaptar sem se negar a si mesmo,
construir a sua autonomia em dialética com a liberdade e a evolução do outro, dominar
o progresso científico. É com este espírito que se deve prestar particular
atenção ao desafio das novas tecnologias da informação.
-
Na tensão entre as soluções a curto e a longo prazo (tensão eterna) mas
alimentada atualmente pelo domínio do efêmero e do instantâneo, num contexto
onde o excesso de informações e emoções efêmeras leva a uma constante
concentração sobre os problemas imediatos. As opiniões pretendem respostas e
soluções rápidas, quando muitos dos problemas enfrentados necessitam de uma
estratégia paciente, que passe pela concertação e negociação das reformas a
executar. As políticas educativas são, precisamente, uma área em que esta
estratégia se aplica.
-
Na tensão entre a indispensável competição e o cuidado com a igualdade de
oportunidades. A pressão da competição faz com que muitos responsáveis esqueçam
a missão de dar a cada ser humano os meios necessários para poderem realizar
todas as suas oportunidades. Conscientes desta realidade, tornou-se necessário
retomar e a atualizar o conceito de educação ao longo de toda a vida, de modo a
conciliar a competição que estimula, a cooperação que reforça e a solidariedade
que une.
Na
tensão entre o extraordinário desenvolvimento dos conhecimentos e as
capacidades de assimilação pelo homem. Pensa-se que sistemas mais flexíveis,
com maior diversidade de cursos, e com maior permeabilidade entre as diversas
categorias de ensino ou, entre a experiência profissional e o retomar da
formação, constituem respostas válidas às questões postas pela inadequação
entre a oferta e a procura de emprego.
É
necessário, optar, com a condição de preservar os elementos essenciais de uma educação
básica que ensine a viver melhor, através do conhecimento, da experiência e da
construção de uma cultura pessoal.
Por
fim, a tensão entre o espiritual e o material. Muitas vezes, sem se aperceber
disso ou sem ter capacidade para o exprimir, o mundo tem sede de ideal ou de
valores morais mas para poder criar esta nova sociedade, a imaginação humana
deve ser capaz de se adiantar aos avanços tecnológicos, se quisermos evitar o
aumento do desemprego, a exclusão social ou as desigualdades de desenvolvimento.
Por
todas estas razões, parece necessário tomar algumas medidas, nomeadamente:
-
Implementar o conceito de educação ao longo de toda a vida (flexibilidade, diversidade
e acessibilidade no tempo e no espaço);
-
Efetuar adaptações relacionadas com as alterações da vida profissional;
-
Construir de forma contínua a pessoa humana - saberes e aptidões, capacidade de
discernir e agir;
-
Tomar consciência de si próprio e do meio ambiente que o rodeia;
-
Desempenhar o papel social que lhe cabe, enquanto trabalhador e cidadão;
-
Estar na posse de todos os elementos de uma educação básica de qualidade;
Cabe à escola o dever transmitir ainda mais o
gosto e prazer por aprender, a capacidade de mais aprender a aprender e
estimular a curiosidade intelectual.
Nada
pode substituir o sistema formal de educação, que nos inicia nos vários domínios
das disciplinas cognitivas.
Os Quatro pilares da
Educação
-
Aprender a viver juntos
-
Aprender a conhecer
-
Aprender a fazer
-
Aprender a ser
A
sociedade educativa está baseada na aquisição,
atualização e utilização dos conhecimentos. São estas as três funções relevantes no processo educativo.
Com
a sociedade da informação, a educação deve permitir que todos possam recolher,
selecionar, ordenar, gerir e utilizar as mesmas informações.
A
educação deve adaptar-se constantemente sem deixar de transmitir as aquisições,
os saberes básicos da experiência humana.
Repensar
e interligar as diferentes sequências da educação
A
educação ao longo de toda a vida permite ordenar as diferentes sequências de
aprendizagem, gerir as transições, diversificar os percursos, valorizando-os.
Para
realizar este trajeto são necessários instrumentos essenciais de aprendizagem,
nomeadamente – a leitura, a escrita, a expressão oral, o cálculo matemático e a
resolução de problemas.
Os
Conteúdos educativos fundamentais são o conhecimento, as aptidões, os valores e
as atitudes.
Combinar
a escola clássica com as contribuições exteriores à escola, faculta à criança o
acesso às três dimensões da educação: ética e cultural; científica e tecnológica;
econômica e social.
A
educação é, também, uma experiência social, em contato com a qual a criança
aprende a descobrir-se a si mesma, desenvolve as relações com os outros,
adquire bases no campo do conhecimento e do saber-fazer.
Confronto
entre duas lógicas (sem razão): a lógica do serviço público e a do mercado de
trabalho.
Atores
principais que contribuem param o sucesso das reformas educativas:
-
A comunidade local (os pais, os órgãos diretivos das escolas e os professores);
-
As autoridades oficiais;
-
A comunidade internacional.
Ampliar
a cooperação internacional a toda a aldeia global
Se
os países industrializados podem ajudar os países em desenvolvimento, através
das suas experiências bem-sucedidas, das suas técnicas e meios financeiros e
materiais, também podem, por sua vez, aprender com estes, modos de transmissão
da herança cultural, itinerários de socialização das crianças e,
fundamentalmente, culturas e modos de ser diferentes.
HORIZONTES
Da comunidade de base
à sociedade mundial
O
destino de cada um de nós, quer o queiramos quer não, joga-se num cenário à
escala mundial.
A
abertura das fronteiras econômicas e financeiras, impelida por teorias de livre
comércio, reforçada pelo desmembramento do bloco soviético, instrumentalizada
pelas novas tecnologias da informação a interdependência planetária não cessa
de aumentar, no plano econômico, científico, cultural e político.
Esta
expansão da humanidade confere, uma dimensão planetária a certas decisões.
Para
uma mundialização dos setores de atividade humana
A
globalização provoca:
-
Na área da economia (a desregulamentação e a descompartimentação dos mercados
financeiros, aceleradas pelo progresso da informática);
-
A expansão do comércio mundial, provocou efeitos benéficos;
-
A interdependência mundial.
A constituição de redes científicas e
tecnológicas que liguem entre si, os centros de pesquisa e as grandes empresas
do mundo inteiro, tende a agravar as disparidades entre países desenvolvidos e
em desenvolvimento.
As
questões de segurança também são permeáveis ao aparecimento de vários tipos de
criminalidade.
A
comunicação universal
A
livre circulação de imagens e de palavras, que prefigure o mundo de amanhã, até
no que possa ter de perturbador, transformou tanto as relações internacionais,
como a compreensão do mundo pelas pessoas; constitui um dos grandes
aceleradores da mundialização.
Contrapartidas
negativas da comunicação universal:
-
Os sistemas de informação são ainda relativamente caros e de difícil acesso
para muitos países. O seu domínio confere às grandes potências, ou a quem o
detêm, um verdadeiro poder cultural e político, principalmente sobre as
populações.
-
O monopólio das indústrias culturais, por parte de uma minoria de países e a
difusão de sua produção pelo mundo inteiro, constituem poderosos fatores de
erosão das especificidades culturais.
Se
bem que uniforme e, muitas vezes, de grande pobreza de conteúdo, esta falsa
“cultura mundial” não deixa, por isso, de trazer consigo normas implícitas e
pode induzir, nos que lhe sofrem o impacto, um sentimento de espoliação e de perda
de identidade.
As diferentes faces da interdependência planetária
A
“globalização” dos problemas têm repercussões na vida
das sociedades, através da maneira como afetam, diretamente, os sistemas
educativos. É o que se passa com as migrações internacionais. As pressões
migratórias acentuam-se, longe de reduzir as disparidades entre as nações, o
crescimento desigual da economia mundial agrava-as.
A imigração mostra a interdependência planetária.
Os diferentes aspetos das migrações
Mais de metade dos movimentos migratórios mundiais
efetua-se, atualmente, entre países em desenvolvimento.
Os movimentos migratórios, para os países industriais,
intensificaram- se, e a maioria dos migrantes vem, hoje em dia, de países em
desenvolvimento.
Outra vertente da problemática é a multiplicidade de
línguas, expressão da diversidade cultural da humanidade. Os movimentos de
população, que aumentaram no decorrer dos últimos anos, criaram, sobretudo nos
grandes centros urbanos, situações linguísticas novas que acentuaram, ainda
mais, esta diversidade.
Por outro lado, as línguas habitualmente utilizadas
como veículos de comunicação, isto é, as que, no plano intranacional ou
internacional, permitem que se comuniquem entre si, pessoas que falam línguas
diferentes, adquirem cada vez mais importância, devido à maior mobilidade das
populações e ao desenvolvimento dos meios de comunicação social. A complexidade
das situações linguísticas de cada país torna mais difícil encontrar soluções
que se apliquem em todas as circunstâncias, mas a verdade é que a
aprendizagem de línguas de grande difusão deve ser feita ao mesmo tempo que
alfabetização.
A nível educacional, considera-se a língua materna, a
mais indicada para o desenvolvimento escolar da criança, fazendo-se, a seguir,
a transição gradual para uma língua veicular.
De uma maneira geral, a diversidade linguística não
devia ser considerada, como um obstáculo à comunicação entre os diferentes
grupos humanos, mas antes, como uma fonte de enriquecimento, que vem reforçar a
necessidade do ensino das línguas. As exigências da globalização e da
identidade cultural devem ser complementares.
Um mundo multirriscos
A incerteza quanto ao destino comum da humanidade
assume novas e variadas formas. A acumulação de armas, mesmo de armas
nucleares, não tem o mesmo significado simples de dissuasão, nem de segurança
contra o risco de uma guerra entre dois blocos; é fruto de uma competição
generalizada, para ver quem detém as armas mais sofisticadas.
O medo destes riscos, mesmo se universalmente
partilhado, devido, em especial, à grande difusão das informações acerca dos
efeitos da violência, não afeta com a mesma intensidade os que, de algum modo,
tiram vantagens desta evolução e os que apenas lhe sofrem os inconvenientes.
Impelidos por estas rápidas alterações, todos sentimos necessidade de segurança
contra estes riscos ou, pelo menos, de os controlar, a fim de os minimizar. Mas
há quem, por razões econômicas e políticas, seja incapaz de dominar estes fenômenos.
Neste caso, o perigo para a humanidade é que estas pessoas se tornem reféns e
depois, eventualmente, mercenários daqueles que querem obter o poder pela
violência.
O local e o global
O mal-estar causado pela falta de visão clara do
futuro, conjuga-se com a consciência cada vez maior das diferenças existentes
no mundo, e das múltiplas tensões que daí resultam, entre o “local” e o
“global”.
Por outro lado, a rápida transformação das sociedades
humanas a que assistimos, na junção de dois séculos, dá-se em dois sentidos: no
sentido da mundialização, mas também no sentido da busca de múltiplas raízes
particulares. Cria, naqueles que a vivem ou tentam geri-la, um leque de tensões
contraditórias, num contexto de completa alteração.
Solicitado por uma modernidade global, o indivíduo
sente-se confuso perante a complexidade do mundo moderno, que altera as suas
referências habituais. Abalado por ver, postas em causa as bases da sua
existência, o homem contemporâneo corre o risco de encarar como ameaças as
evoluções que se operam além das fronteiras do seu grupo imediato e de,
paradoxalmente, ser tentado, por um sentimento ilusório de segurança, a
fechar-se sobre si mesmo, com a eventual consequência de rejeição do outro.
A dificuldade está, em última análise, em conseguir ultrapassar
as tensões de sentido oposto, que afetam hoje em dia, muitas atividades
humanas.
Compreender o mundo, compreender o outro
Ajudar a transformar a interdependência real em
solidariedade desejada, corresponde a uma das tarefas essenciais da educação. A
educação deve preparar cada indivíduo para se compreender a si mesmo e ao
outro, através de um melhor conhecimento do mundo.
A exigência de uma solidariedade à escala mundial
supõe que todos ultrapassem a tendência de se fecharem sobre si mesmos, de modo
a abrir-se à compreensão dos outros, baseada no respeito pela diversidade.
O conhecimento das outras culturas torna-nos
conscientes da singularidade da nossa própria cultura mas também da existência
de um patrimônio comum ao conjunto da humanidade.
Os jovens e o patrimônio mundial
Compreender os outros faz com que cada um se conheça
melhor a si mesmo. É de fato complexa a forma como nos identificamos. Cada
indivíduo define-se em relação ao outro, aos outros, e aos vários grupos a que
pertence, segundo modalidades dinâmicas. A descoberta da multiplicidade destas
relações, para lá dos grupos mais ou menos restritos constituídos pela família,
a comunidade local e, até, a comunidade nacional, leva à busca de valores
comuns, que funcionem como fundamento da “solidariedade intelectual e moral da
humanidade”, (mencionado no documento constitutivo da UNESCO).
Pistas e recomendações
A interdependência planetária e a globalização são os
fenômenos mais importantes do nosso tempo. O maior risco é provocar uma rutura
entre uma minoria apta a movimentar-se neste mundo novo, em formação e uma
maioria que começa a sentir-se um joguete
dos acontecimentos, impotente para influenciar o destino coletivo, com o risco
de um recuo democrático e múltiplas revoltas.
Devemos cultivar, como utopia orientadora, o propósito
de encaminhar o mundo para uma maior compreensão mútua, mais sentido de
responsabilidade e mais solidariedade, na aceitação das nossas diferenças
espirituais e culturais. A educação, permitindo o acesso de todos ao
conhecimento, tem um papel bem concreto a desempenhar no cumprimento desta
tarefa universal: ajudar a compreender o mundo e o outro, a fim de que cada um
se compreenda melhor a si mesmo.
CAPÍTULO 2
DA COESÃO SOCIAL À PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA
Em todo o mundo, a educação, sob as suas diversas
formas, tem por missão criar, entre as pessoas, vínculos sociais que tenham a
sua origem em referências comuns. Os meios utilizados abrangem as culturas e as
circunstâncias mais diversas; em todos os casos, a educação tem como objetivo
essencial o desenvolvimento do ser humano na sua dimensão social. Define-se
como veículo de culturas e de valores, como construção de um espaço de
socialização, e como cadinho de preparação de um projeto comum.
Atualmente, os diferentes modos de socialização estão
sujeitos a duras provas, em sociedades ameaçadas pela desorganização e a rutura
dos laços sociais. Os sistemas educativos encontram-se, assim, submetidos a um
conjunto de tensões, dado que se trata, concretamente, de respeitar a
diversidade dos indivíduos e dos grupos humanos, mantendo, contudo, o princípio
da homogeneidade que implica a necessidade de observar regras comuns.
Confrontada com a crise das relações sociais, a
educação deve assumir a difícil tarefa que consiste em fazer da diversidade um
fator positivo de compreensão mútua entre indivíduos e grupos humanos. A sua
maior ambição é, dar a todos, os meios necessários a uma cidadania consciente e
ativa, que só pode realizar-se, plenamente, num contexto de sociedade democrática.
Uma educação à prova da crise das relações sociais
Nos países em desenvolvimento, o crescimento da
população compromete a possibilidade de se alcançar níveis de vida mais
elevados, o desenraizamento ligado às migrações e ao êxodo rural, o desmembramento
das famílias, a urbanização desordenada, a rutura das solidariedades
tradicionais de vizinhança, lançam muitos grupos e indivíduos no isolamento e na
marginalização. A crise social do mundo atual conjuga-se com uma crise moral e
vem acompanhada do desenvolvimento da violência e da criminalidade. A rutura
dos laços de vizinhança manifesta-se no aumento dramático dos conflitos
interétnicos, que parece ser um dos traços característicos dos finais do século
XX.
De uma maneira geral, os valores integradores são
postos em causa de formas muito diversas. O que parece particularmente grave é
que esta atitude abrange dois conceitos, o de nação e o de democracia, que
podemos considerar como os fundamentos da coesão das sociedades modernas. O
Estado-Nação, tal como se constituiu na Europa durante o século XIX, já não é,
em certos casos, o único quadro de referência, e tendem a desenvolver-se outras
formas de dependência, mais próximas dos indivíduos, na medida em que se situam
a uma escala mais reduzida. De maneira inversa, mas sem dúvida complementar,
surgem no mundo regiões inteiras que procuram constituir vastas comunidades
transnacionais que traçam novos espaços de identificação, embora limitados
ainda, apenas à atividade econômica.
O sistema de representação política e o modelo de
exercício de poder que a caracterizam entram, muitas vezes, em crise: a
distância entre governantes e governados, a excessiva emergência nos meios de
comunicação social de reações emocionais efêmeras e oportunistas, a
“política-espetáculo”, tornada possível pela mediatização dos debates, até
mesmo a imagem de corrupção do mundo político, fazem com que alguns países
corram o risco de ter um “governo de juízes” e o desencanto dos cidadãos pela
coisa pública. Por outro lado, muitos países atravessam, também, uma crise nas
políticas sociais que ataca os próprios fundamentos de um regime de
solidariedade, que parecia poder reconciliar, democraticamente, o econômico, o
político e o social, sob a égide do Estado-providência.
O que está em causa é, de fato, a capacidade de cada
um se comportar como verdadeiro cidadão, consciente das vantagens coletivas e
sociais de participar na vida democrática.
A educação e a luta contra as exclusões
A educação pode ser um fator de coesão, se procurar
ter em conta a diversidade dos indivíduos e dos grupos humanos, evitando
tornar-se um fator de exclusão social.
O respeito pela diversidade e pela especificidade dos
indivíduos constitui, de fato, um princípio fundamental.
Gerador de exclusão, o insucesso escolar está, em
muitos casos, na origem de certas formas de violência e de desvios individuais.
Estes processos que destroem o tecido social fazem com
que a escola seja acusada de ser fator de exclusão social e, ao mesmo tempo,
seja fortemente solicitada como instituição-chave para a integração ou
reintegração.
Educação e dinâmica social: alguns princípios de ação
Para criar modalidades de reconhecimento de aptidões e
conhecimentos tácitos e, portanto, para haver reconhecimento social, é bom,
sempre que possível, diversificar os sistemas de ensino e envolver nas
parcerias educativas as famílias e os diversos atores sociais.
Cooperação entre a comunidade e a escola (East Harlem)
A educação
para o pluralismo é, não só, uma barreira contra a violência, mas
um princípio ativo de enriquecimento cultural e cívico das sociedades
contemporâneas.
A definição de uma educação adaptada aos diferentes
grupos minoritários surge como uma prioridade.
A educação para a tolerância e para o respeito do
outro, condição necessária à democracia, deve ser considerada como uma tarefa
geral e permanente.
Participação democrática
Educação cívica e práticas de cidadania
Sendo a educação para a cidadania e democracia, uma
educação que não se limita ao espaço e tempo da educação formal, é preciso
implicar diretamente nela as famílias e os outros membros da comunidade.
Construir e habitar a sociedade civil (Hungria).
Uma nova maneira de encarar a história e as
ciências sociais:
— Na iniciação às questões de direito;
— Na reflexão crítica;
— Na ética e formação moral;
— Na compreensão da dimensão planetária;
— No pluralismo e educação multicultural.
Esta nova perspetiva insiste na necessidade de reformar
a escola, pois seria contraditório ensinar a democracia, no seio de instituições
de caráter autoritário.
Para o aluno, a educação cívica constitui um conjunto
complexo que abarca, ao mesmo tempo, a adesão a valores, a aquisição de
conhecimentos e a aprendizagem de práticas de participação na vida pública. Não
pode, pois, ser considerada como neutra do ponto de vista ideológico;
questiona, necessariamente, a consciência do aluno.
A educação dos cidadãos deve realizar-se durante toda
a vida para se tornar uma linha de força da sociedade civil e da democracia
viva. Confunde-se com a democracia, quando todos participam na construção de
uma sociedade responsável e solidária, respeitadora dos direitos fundamentais
de cada um.
Sociedades de informação e sociedades educativas
Muito embora os efeitos da extensão das redes
informáticas sejam ainda limitados, por serem ainda relativamente poucos os que
possuem as novas tecnologias, tudo leva a crer que se trata de uma revolução
inevitável que permitirá a transmissão de uma quantidade cada vez maior de
informação, num lapso de tempo cada vez mais curto.
Aprendizagens eletrônicas
Esta revolução tecnológica constitui, um elemento
essencial para a compreensão da nossa modernidade, na medida em que cria novas
formas de socialização e novas definições de identidade individual e coletiva.
O acesso ao mundo virtual pode levar a uma perda do
sentido da realidade, e é de esperar uma certa perturbação da aprendizagem e do
acesso ao conhecimento fora dos sistemas educativos formais, com sérias
consequências sobre os processos de socialização das crianças e dos adolescentes.
O maior risco reside, essencialmente, na criação de
novas ruturas e de novos desequilíbrios. Estes novos desequilíbrios podem
aparecer entre as diversas sociedades, isto é, entre as que souberam adaptar-se
às novas tecnologias e as que não o fizeram por falta de recursos financeiros
ou de vontade política.
A título de conclusão provisória, somos levados a
pensar que as diferenças se estabelecerão, entre as que produzem conteúdos e as
que se limitarão a receber informações, sem participar, realmente, nas trocas
recíprocas.
É, sobretudo, no interior de cada uma das sociedades
que as clivagens ameaçam ser mais profundas, entre os que dominam os novos
meios de informação e os que não têm essa possibilidade: o perigo está em
constituírem-se sociedades que progridem a várias velocidades, de acordo com o
acesso de cada uma às novas tecnologias.
A responsabilidade dos sistemas educativos surge em
primeiro plano; cabe-lhes fornecer, a todos, meios para dominar a proliferação
de informações, de as selecionar e hierarquizar, dando mostras de espírito
crítico. São, ainda, responsáveis por preparar as pessoas para manterem a
devida distância em relação à sociedade dos meios de comunicação e informação
que tende a ser, apenas, uma sociedade do efêmero e do instantâneo.
À tirania do “tempo real” opõe-se o tempo diferido, o
tempo do amadurecimento, que é o tempo da cultura e da apropriação dos saberes.
É claro que a utilização das tecnologias na escola pode revestir formas
variáveis.
Contudo, deve -se manter sempre o princípio da
igualdade de oportunidades. Trata-se de fazer com que os que têm mais
necessidades, por serem mais desfavorecidos, possam beneficiar destes novos
instrumentos de compreensão do mundo. Deste modo, os sistemas educativos, ao
mesmo tempo que fornecem os indispensáveis modos de socialização, conferem,
igualmente, as bases de uma cidadania adaptada às sociedades de informação.
As tecnologias da informação e da comunicação poderão
constituir, de imediato, para todos, um verdadeiro meio de abertura aos campos
da educação não formal, tornando-se um dos vetores privilegiados de uma
sociedade educativa, na qual os diferentes tempos de aprendizagem sejam
repensados radicalmente.
Pistas e recomendações
Ø
Política educativa deve ser suficientemente diversificada
e concebida de modo a não se tornar um fator suplementar de exclusão social.
Ø
Socialização de cada indivíduo e o seu desenvolvimento
pessoal não devem ser coisas antagônicas.
Ø
A educação deve contribuir para o desenvolvimento do
querer viver juntos, elemento básico da coesão social e da identidade nacional.
A escola só pode ter êxito nesta tarefa se contribuir para a promoção e
integração dos grupos minoritários, mobilizando os próprios interessados no
respeito a sua personalidade.
Ø
É na escola que deve começar a educação para uma
cidadania consciente e ativa.
A participação democrática depende, de algum modo, das
virtudes cívicas, a capacidade de operar uma triagem na massa de informações, a
fim de melhor interpretá-las, e de reconstituir os acontecimentos inseridos
numa história de conjunto.
Ø
Os sistemas educativos devem dar resposta aos
múltiplos desafios das sociedades da informação, na perspetiva de um
enriquecimento contínuo dos saberes e do exercício de uma cidadania adaptada às
exigências do nosso tempo.
CAPÍTULO 3
DO CRESCIMENTO ECONÔMICO AO DESENVOLVIMENTO HUMANO
O mundo conheceu, durante o
último século um desenvolvimento sem precedentes que gerou um crescimento
econômico mundial profundamente desigual.
Os modos de vida e os estilos de consumo sofreram
profundas transformações e o projeto de uma melhoria do bem-estar da humanidade
pela modernização da economia começou a ganhar forma de modo quase universal.
As disparidades explicam-se, em parte, pela disfunção
dos mercados e pela natureza, intrinsecamente desigual, do sistema político
mundial e estão também estreitamente ligadas ao tipo de desenvolvimento atual,
que atribui um valor preponderante à massa cinzenta e à inovação.
A procura de educação para fins econômicos
As comparações internacionais realçam a importância do
capital humano e do investimento educativo para a produtividade. A relação
entre o ritmo do progresso técnico e a qualidade da intervenção humana,
torna-se cada vez mais evidente, assim como a necessidade de formar agentes
econômicos aptos a utilizar as novas tecnologias e que revelem um comportamento
inovador. Requerem-se novas aptidões e os sistemas educativos devem dar
resposta a esta necessidade, não só assegurando os anos de escolarização ou de
formação profissional estritamente necessários, mas formando cientistas,
inovadores e quadros técnicos de alto nível.
A rapidez das alterações tecnológicas fez, surgir a
necessidade de flexibilidade qualitativa da mão-de-obra.
Acompanhar e antecipar-se às transformações
tecnológicas que afetam permanentemente a natureza e a organização do trabalho,
tornou-se primordial.
Em todos os setores, mesmo na agricultura sente-se a
necessidade de competências evolutivas articuladas com o saber e com o
saber-fazer mais atualizado. Esta evolução irreversível não aceita as rotinas
nem as qualificações obtidas por imitação ou repetição e verifica-se que se dá
uma importância cada vez maior aos investimentos ditos imateriais, como a
formação, à medida que a “revolução da inteligência” produz os seus efeitos. A
formação permanente de mão-de-obra adquire, a dimensão de um investimento
estratégico que implica a mobilização de vários tipos de atores.
Trata-se, de formar para a inovação pessoas capazes de
evoluir, de se adaptar a um mundo em rápida mudança e capazes de dominar essas
transformações.
Desigualdade na distribuição dos recursos cognitivos
No alvorecer do século XXI, a atividade educativa e
formativa, em todos os seus componentes, tornou-se um dos motores principais do
desenvolvimento e contribui para o progresso científico e tecnológico, assim
como para o avanço geral dos conhecimentos, que constituem o fator decisivo do
crescimento econômico.
A fuga de cérebros para os países ricos
Os países em desenvolvimento perdem todos os anos
milhares de especialistas, engenheiros, médicos, cientistas, técnicos.
Frustrados pelo baixo nível de salários e pelas possibilidades limitadas que se
lhes oferecem nos países de origem, emigram para os países ricos onde as suas
competências podem ser bem utilizadas e remuneradas.
Trata-se, em parte, de um problema de superprodução.
Os sistemas de ensino dos países em desenvolvimento estão, muitas vezes,
organizados em função de necessidades próprias de países industrializados e
formam, um número excessivo de diplomados de alto nível.
Esta perda de mão-de-obra especializada constitui uma
grave hemorragia de capitais, compensada, em parte, mas apenas em parte, pelas
remessas de fundos que estes trabalhadores emigrantes enviam para os países de
origem.
É aos países em desenvolvimento que incumbe, em
primeiro lugar, travar este fenômeno. Devem adotar sistemas de ensino adaptados
às suas necessidades reais e melhorar a gestão da sua economia. Mas, para isso,
terão de ter amplo acesso aos mercados internacionais.
A ausência de uma comunidade científica própria,
suficientemente vasta, constitui uma pesada limitação.
Gerador de fortes economias de escala na fase da
pesquisa fundamental, o conhecimento só se torna eficaz, neste domínio, após se
atingir um nível crítico de investimento. Passa-se o mesmo com a
pesquisa-e-desenvolvimento que necessita de investimentos vultuosos e
arriscados, e que supõe a existência de um meio já suficientemente dotado de
recursos científicos. Este meio envolvente é necessário para multiplicar, de maneira
significativa, o rendimento dos investimentos consagrados à pesquisa e ensejar
economias externas, a curto e a longo prazo.
As transferências de tecnologia dos países industrializados
para os países em desenvolvimento, necessitam, de um ambiente propício que
mobilize e valorize os recursos cognitivos locais e permita uma real
apropriação das tecnologias, no quadro de um desenvolvimento endógeno.
Nos países emergentes, da Ásia, a situação é
diferente, verificando-se um forte crescimento dos investimentos de tipo
privado.
Estes investimentos, combinados com transferências de
tecnologia, podem constituir a base de um rápido desenvolvimento econômico se
forem acompanhados de uma verdadeira política de formação de mão-de-obra local,
o que acontece habitualmente.
1ª Conclusão
Os países em desenvolvimento não devem negligenciar nada que possa facilitar-lhes a indispensável entrada no universo da
ciência e da tecnologia, com o que
isto comporta em matéria de adaptação de culturas e de modernização de mentalidades. Considerados nesta perspetiva, os investimentos em matéria de
educação e de pesquisa constituem uma
necessidade, e uma das preocupações prioritárias da comunidade internacional deve ser o risco de
marginalização total dos excluídos
do progresso, numa economia mundial em rápida transformação.
A África às vésperas do século XXI
Em África milhões de crianças, mulheres e homens têm,
atualmente, necessidade de ser protegidos, desejam adquirir saberes e
competências e assumir as suas responsabilidades de cidadãos e agentes económicos.
Querem participar na tomada de decisões que se relacionam com a sua vida
quotidiana e o seu bem-estar, assim como na condução dos assuntos públicos.
Participação das mulheres na educação, alavanca
essencial do desenvolvimento
O princípio da equidade obriga a um esforço particular
para suprimir todas as desigualdades entre sexos em matéria de educação.
Elas estão, de fato, na origem de inferioridades
permanentes que pesam sobre as mulheres ao longo de toda a sua vida. Por outro
lado, hoje em dia, todos os peritos são unânimes em reconhecer o papel
estratégico da educação das mulheres no desenvolvimento.
Estabeleceu-se uma correlação muito clara entre o
nível de educação das mulheres, por um lado e, por outro, a melhoria geral da saúde
e da nutrição da população, bem como a redução da taxa de fecundidade.
A educação das jovens e das mulheres surge, então,
tendo em vista o que uma minoria delas já conseguiu, como condição de uma
participação ativa da população nas iniciativas em matéria de desenvolvimento.
Disparidade entre sexos
Nas economias de subsistência, as mulheres efetuam a
maior parte dos trabalhos e, em relação aos homens, trabalham durante mais
tempo por dia e contribuem mais para o rendimento familiar. Esta disparidade de
condições entre sexos é uma das primeiras causas da pobreza pois, sob diversas
formas, impede que centenas de milhões de mulheres tenham acesso à educação,
formação, serviços de saúde, às creches e a um estatuto jurídico que lhes
permita escapar a este flagelo.
Segundo as estimativas, as mulheres são a única fonte
de rendimento para um quarto, a um terço das economias domésticas do mundo. E a
sua contribuição representa mais de 50% dos recursos em, pelo menos, um quarto
das restantes economias. As famílias cuja chefia cabe a uma mulher vivem muitas
vezes abaixo do limiar da pobreza. A situação das mulheres é cada vez mais
precária nas economias de subsistência.
As dificuldades cada vez maiores de tempo que lhes são
impostas por terem de trabalhar mais horas para conseguirem o pão de cada dia,
têm o duplo efeito de desvalorizar o seu estatuto social e de manter elevada a
taxa de natalidade. Dado que não lhes é possível aumentar, mais ainda, a sua
carga de trabalho, as mulheres recorrem, em grande parte, aos seus filhos — em
especial às filhas — para se libertarem de uma parte das suas tarefas. De fato,
a tendência crescente em muitas regiões de não mandar as filhas à escola para que
assim possam ajudar a mãe no trabalho fará, com certeza, com que toda uma nova
geração de jovens fique com perspectivas de futuro muito limitadas e se sinta
em desvantagem em relação aos irmãos.
Uma reflexão necessária: os prejuízos do progresso
O objetivo de puro crescimento econômico revela-se
insuficiente para garantir o desenvolvimento humano. Está posto em questão por
duas razões: não só devido ao seu caráter desigual, mas também por causa dos
elevados custos que acarreta especialmente em matéria de ambiente e de emprego.
As condições de vida sobre a terra estão ameaçadas: a
escassez de água potável, o desmatamento, o “efeito estufa”, a transformação
dos oceanos em lixeiras gigantes, são manifestações inquietantes de uma
irresponsabilidade geral das gerações atuais em relação ao futuro.
O rápido aumento do desemprego nos últimos anos em
muitos países constitui, em muitos aspetos, um fenômeno estrutural ligado ao
progresso tecnológico.
Ao substituir sistematicamente a mão-de-obra por um
capital técnico inovador que aumenta constantemente a produtividade do
trabalho, está-se contribuindo para o aumento do desemprego.
O fenômeno afetou, em primeiro lugar, o trabalho de
execução; começa a atingir, a partir de agora, tarefas de conceção e de
cálculo. A generalização da inteligência artificial ameaça fazer com que o fenômeno
suba ao longo da cadeia de qualificação.
O progresso técnico avança mais depressa do que a
nossa capacidade de imaginar soluções para os novos problemas que ele coloca às
pessoas e às sociedades modernas. É preciso repensar a sociedade em função
desta evolução inevitável.
Crescimento econômico e desenvolvimento humano
O bem-estar humano deveria ser considerado como a
finalidade do desenvolvimento, sublinhando a gravidade e amplitude dos
fenômenos de pobreza no mundo. Os indicadores do desenvolvimento não deveriam
limitar-se, apenas, ao rendimento por habitante, mas compreender também dados
relativos à saúde, alimentação e nutrição, acesso à água potável, educação e
ambiente. É preciso considerar, a equidade e igualdade entre os diferentes
grupos sociais e entre sexos, bem como o grau de participação democrática. Por
outro lado, a noção de “sustentabilidade” vem completar a do desenvolvimento
humano, ao pôr-se em relevo a viabilidade, a longo prazo, do processo de
desenvolvimento, a melhoria das condições de existência das futuras gerações, assim
como o respeito pelos meios naturais de que depende a vida na Terra.
O desenvolvimento humano atual
O desenvolvimento humano tem em vista aumentar as
possibilidades oferecidas às pessoas.
As possibilidades podem ser infinitas e evoluir com
o tempo, no entanto as que preocupam as pessoas são ter uma vida longa e com
saúde, adquirir conhecimentos e ter acesso aos recursos necessários para terem
uma vida em condições.
Na ausência destas possibilidades essenciais, muitas
oportunidades tornar-se-ão inacessíveis.
Para além destas possibilidades, o desenvolvimento
humano valoriza bastante outras potencialidades, nomeadamente a liberdade
politica, económica e social, a expressão da criatividade e a capacidade de
produzir, a dignidade pessoal e o respeito pelos direitos humanos.
O conceito de desenvolvimento humano vai muito para
além das teorias clássicas do desenvolvimento económico.
A
educação deve, no futuro, ser encarada no quadro de uma nova problemática em
que não apareça apenas como um meio de desenvolvimento mas como um dos
elementos constitutivos e uma das finalidades essenciais desse desenvolvimento.
Educar para o desenvolvimento humano
Um dos principais papéis reservados à educação
consiste, antes de mais, em dotar a humanidade da capacidade de dominar o seu
próprio desenvolvimento.
A educação básica para todos é, pois, absolutamente
vital, deve, também e sobretudo, na perspetiva da educação permanente, dar a
todos os meios de modelar, livremente, a sua vida e de participar na evolução
da sociedade.
À noção de educação básica ou “educação fundamental,
deve incluir-se um conjunto de conhecimentos e de competências indispensáveis
na perspetiva do desenvolvimento humano.
O princípio geral de ação - incitamento à iniciativa,
ao trabalho em equipa, as sinergias, o autoemprego e o espírito empreendedor.
É preciso ativar os recursos de cada país, mobilizar
os saberes e os agentes locais, com vista à criação de novas atividades que
afastem os malefícios do desemprego tecnológico. Nos países em desenvolvimento
esta é a melhor via de conseguir e alimentar processos de desenvolvimento
endógeno.
Recomendações de Dacar
- Diversificar as ofertas
educativas diferenciando os seus conteúdos, a fim de escapar ao modelo único,
fonte de competição e, muitas vezes, de frustração.
Há que flexibilizar nos tipos e percursos educativos,
níveis de sistemas e estruturas, preservar a coerência do conjunto (utilização
dos meios de comunicação social; participação da educação informal; parcerias
educativas; organização de percursos escolares distribuídos ao longo da vida de
cada um); métodos e locais de aprendizagem, especialmente no que se refere ao
saber-fazer (escolaridade mais ou menos prolongada; aprendizagem em serviço;
alternância com o local de trabalho).
- Criar capacidades de pesquisa e peritos ao nível
regional: ensinar ciências segundo uma problemática sistêmica, recorrendo à “lição
das coisas”, o que permite retirar conhecimentos da observação do meio
envolvente natural ou artificial.
- Mobilizar os
conhecimentos tácitos de todos, incluindo os das gerações mais velhas.
- Mobilizar os conhecimentos científicos
internacionais para projetos pluridisciplinares.
- Estimular o desenvolvimento da criatividade e das
capacidades de empreendimento endógenas. Criar é, em si, um processo educativo
orientado para resolver problemas. Os mais criadores não são, necessariamente,
os que obtêm sucesso na escola formal.
A educação não serve, apenas, para fornecer pessoas
qualificadas ao mundo da economia, não se destina ao ser humano enquanto agente
econômico, mas enquanto fim último do desenvolvimento.
Desenvolver os talentos e as aptidões de cada um
corresponde, ao mesmo tempo, à missão fundamentalmente humanista da educação, à
exigência de equidade que deve orientar qualquer política educativa e às
verdadeiras necessidades de um desenvolvimento endógeno, respeitador do meio
ambiente humano e natural, e da diversidade de tradições e de culturas.
SEGUNDA PARTE
PRINCÍPIOS
CAPÍTULO 4
OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO
A educação deve transmitir, de fato, de forma maciça e
eficaz, cada vez mais saberes e saber-fazer evolutivos, adaptados à civilização
cognitiva, pois são as bases das competências do futuro.
É, necessário estar à altura de aproveitar e explorar,
do começo ao fim da vida, todas as ocasiões de atualizar, aprofundar e
enriquecer estes primeiros conhecimentos, e de se adaptar a um mundo em
mudança.
Para poder dar resposta ao conjunto das suas missões,
a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais - os
pilares do conhecimento: aprender a
conhecer, isto é adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder
agir sobre o meio envolvente; aprender
a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas
as atividades humanas; finalmente aprender
a ser, via essencial que integra os três precedentes.
O ensino formal orienta-se, essencialmente para o aprender
a conhecer e em menor escala para o aprender a fazer.
1º Aprender a conhecer
Um meio e uma finalidade da vida humana.
Meio, porque se pretende que cada um aprenda a
compreender o mundo que o rodeia, pelo menos na medida em que isso lhe é
necessário para viver dignamente, para desenvolver as suas capacidades
profissionais, para comunicar. Finalidade, porque seu fundamento é o prazer de
compreender, de conhecer, de descobrir.
A especialização, porém, mesmo para futuros
pesquisadores, não deve excluir a cultura geral. “Um espírito verdadeiramente
formado, hoje em dia, tem necessidade de uma
cultura geral vasta e da possibilidade
de trabalhar em profundidade
determinado número de assuntos. Deve-se, do princípio ao fim do ensino,
cultivar, simultaneamente, estas duas tendências.
A cultura geral, enquanto abertura a outras linguagens
e outros conhecimentos permite, antes de tudo, comunicar.
Aprender para conhecer supõe, antes tudo, aprender a
aprender, exercitando a atenção, a memória e o pensamento.
A sucessão muito rápida de informações mediatizadas
prejudica de fato o processo de descoberta, que implica duração e aprofundamento
da apreensão.
É preciso ser, seletivo na escolha dos dados a
aprender “de cor” mas, a faculdade humana de memorização associativa, que não é
redutível a um automatismo, deve ser cultivada cuidadosamente. Todos os
especialistas concordam em que a memória deve ser treinada desde a infância, e
que é errado suprimir da prática escolar certos exercícios tradicionais,
considerados como fastidiosos.
Finalmente, o exercício do pensamento ao qual a
criança é iniciada, em primeiro lugar, pelos pais e depois pelos professores,
deve comportar avanços e recuos entre o concreto e o abstrato.
Também se devem combinar, tanto no ensino como na
pesquisa, dois métodos apresentados, muitas vezes, como antagônicos: o método
dedutivo por um lado e o indutivo por outro. De acordo com as disciplinas
ensinadas, um pode ser mais pertinente do que outro, mas na maior parte das
vezes o encadeamento do pensamento necessita da combinação dos dois.
O processo de aprendizagem do conhecimento nunca está
acabado e pode enriquecer-se com qualquer experiência.
2º Aprender a fazer
Aprender a conhecer e aprender a fazer são, em larga
medida, indissociáveis.
Aprender a fazer não pode, pois, continuar a ter o
significado simples de preparar alguém para uma tarefa material bem determinada,
para fazê-lo participar no fabrico de alguma coisa. Como consequência, as
aprendizagens devem evoluir e não podem mais ser consideradas como simples
transmissão de práticas mais ou menos rotineiras, embora estas continuem a ter
um valor formativo que não é de desprezar.
- Da noção de qualificação à noção de
competência
O progresso técnico modifica, inevitavelmente, as
qualificações exigidas pelos novos processos de produção.
Este aumento de exigências em matéria de qualificação,
em todos os níveis, tem várias origens. No que diz respeito ao pessoal de
execução a justa posição de trabalhos prescritos e parcelados deu lugar à
organização em “coletivos de trabalho ou “grupos de projeto”.
À indiferenciação entre trabalhadores sucede a
personalização das tarefas. Os empregadores substituem, cada vez mais, a
exigência de uma qualificação ainda muito ligada à ideia de competência
material, pela exigência de uma competência que se apresenta como uma espécie
de cocktail individual, combinando a qualificação, em sentido estrito,
adquirida pela formação técnica e profissional, o comportamento social, a aptidão
para o trabalho em equipa, a capacidade de iniciativa e o gosto pelo risco.
Se juntarmos a estas novas exigências a procura de um
compromisso pessoal do trabalhador, considerado como agente de mudança,
torna-se evidente que as qualidades muito subjetivas, inatas ou adquiridas,
muitas vezes denominadas “saber-ser” pelos dirigentes empresariais, se juntam
ao saber e ao saber-fazer para compor a competência exigida — o que mostra bem
a ligação que a educação deve manter, entre os diversos aspetos da
aprendizagem. Qualidades como a capacidade de comunicar, de trabalhar com os
outros, de gerir e de resolver conflitos, tornam-se cada vez mais importantes.
E esta tendência torna-se ainda mais forte, devido ao desenvolvimento do setor
de serviços.
- A “desmaterialização” do
trabalho e a importância dos serviços entre as atividades assalariadas
Muitos serviços definem-se, sobretudo, em função da
relação interpessoal a que dão origem. Podem encontrar-se exemplos disso tanto
no setor mercantil que prolifera, alimentando-se da complexidade crescente das
economias, como no setor não comercial mais tradicional.
Em ambos os casos, as atividades de informação e
comunicação são primordiais; dá-se prioridade à recolha e tratamento
personalizado de informações específicas para determinado projeto. Neste tipo
de serviços, a qualidade da relação entre prestador e usuário depende, também
muito, deste último.
A relação com a matéria e a técnica deve ser
completada com a aptidão para as relações interpessoais. O desenvolvimento dos
serviços exige, pois, cultivar qualidades humanas que as formações tradicionais
não transmitem, necessariamente e que correspondem à capacidade de estabelecer
relações estáveis e eficazes entre as pessoas.
É provável que nas organizações ultratecnicistas do
futuro, os déficits relacionais possam criar graves disfunções exigindo
qualificações de novo tipo, com base mais comportamental do que intelectual.
- O trabalho na economia informal
Nas economias em desenvolvimento, onde a atividade
assalariada não é dominante, a natureza do trabalho é muito diferente. Não
existe referencial de emprego; as competências são, muitas vezes, de tipo
tradicional. Por outro lado, a aprendizagem não se destina, apenas, a um só
trabalho mas tem como objetivo mais amplo preparar para uma participação formal
ou informal no desenvolvimento. Trata-se, frequentemente, mais de uma
qualificação social do que de uma qualificação profissional, só uma pequena
parte da população tem emprego e recebe salário, pois a grande maioria
participa na economia tradicional de subsistência.
Noutros países em desenvolvimento existe, ao lado da
agricultura e de um reduzido setor formal, um setor de economia ao mesmo tempo
moderno e informal, por vezes bastante dinâmico, à base de artesanato, de
comércio e de finanças que revela a existência de uma capacidade empreendedora
bem adaptada às condições locais.
Em ambos os casos, encaram o futuro como estando estreitamente
ligado à aquisição da cultura científica que lhes dará acesso à tecnologia
moderna, sem negligenciar com isso as capacidades específicas de inovação e
criação ligadas ao contexto local.
3º Aprender a viver juntos, aprender a viver com os
outros
Os seres humanos têm tendência a supervalorizar as
suas qualidades e as do grupo a que pertencem, e a alimentar preconceitos
desfavoráveis em relação aos outros.
O clima geral de concorrência que caracteriza,
atualmente, a atividade econômica no interior de cada país, e sobretudo ao
nível internacional, tem tendência de dar prioridade ao espírito de competição
e ao sucesso individual.
A experiência prova que, para reduzir o risco, não
basta pôr em contato e em comunicação membros de grupos diferentes. Parece,
pois, que a educação deve utilizar duas vias complementares. Num primeiro
nível, a descoberta progressiva do outro. Num segundo nível, e ao longo de toda
a vida, a participação em projetos comuns, que parece ser um método eficaz para
evitar ou resolver conflitos latentes.
A descoberta do outro
A educação tem por missão, por um lado, transmitir
conhecimentos sobre a diversidade da espécie humana e, por outro, levar as
pessoas a tomar consciência das semelhanças e da interdependência entre todos
os seres humanos do planeta.
Passando à descoberta do outro, necessariamente, pela
descoberta de si mesmo. Só então poderão, verdadeiramente, pôr-se no lugar dos
outros e compreender as suas reações.
Desenvolver esta atitude de empatia, na escola, é
muito útil para os comportamentos sociais ao longo de toda a vida.
Por fim, os métodos de ensino não devem ir contra este
reconhecimento do outro.
Os professores que se esquecem que funcionam como
modelos, arriscam-se a enfraquecer por toda a vida nos alunos a capacidade de
abertura à alteridade e de enfrentar as inevitáveis tensões entre pessoas,
grupos e nações. O confronto através do diálogo e da troca de argumentos é um
dos instrumentos indispensáveis à educação do século XXI.
Tender para objetivos comuns
Quando se trabalha em conjunto sobre projetos
motivadores e fora do habitual, as diferenças e até os conflitos
interindividuais tendem a reduzir-se, chegando a desaparecer em alguns casos.
Uma nova forma de identificação nasce destes projetos
que fazem com que se ultrapassem as rotinas individuais, que valorizam aquilo
que é comum e não as diferenças.
Na prática letiva diária, a participação de
professores e alunos em projetos comuns pode dar origem à aprendizagem de
métodos de resolução de conflitos e constituir uma referência para a vida
futura dos alunos, enriquecendo a relação professor/ aluno.
4º Aprender a ser
Princípio fundamental: a educação deve contribuir para
o desenvolvimento total da pessoa — espírito e corpo, inteligência, sensibilidade,
sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade.
Às crianças tem que se fornecer constantemente forças
e referências intelectuais que lhes permitam compreender o mundo que as rodeia
e comportar-se nele como atores responsáveis e justos. A educação parece ter,
como papel essencial, conferir a todos os seres humanos a liberdade de
pensamento, discernimento, sentimentos e imaginação de que necessitam para
desenvolver os seus talentos e permanecerem, tanto quanto possível, donos do
seu próprio destino.
A diversidade das personalidades, a autonomia e o
espírito de iniciativa, até mesmo o gosto pela provocação, são os suportes da
criatividade e da inovação para reduzir a violência ou lutar contra os
diferentes flagelos que afetam a sociedade, os métodos inéditos retirados de
experiências no terreno já deram prova da sua eficácia.
Num mundo em mudança, em que um dos principais motores
parece ser a inovação tanto social como econômica, deve ser dada importância
especial à imaginação e à criatividade; claras manifestações da liberdade
humana. Elas podem vir a ser ameaçadas por uma certa estandardização dos
comportamentos individuais. O século XXI necessita desta diversidade de
talentos e de personalidades, mais ainda de pessoas excecionais, igualmente
essenciais em qualquer civilização. Convém, pois, oferecer às crianças e aos
jovens todas as ocasiões possíveis de descoberta e de experimentação —
estética, artística, desportiva, científica, cultural e social —, que venham
completar a apresentação atraente daquilo que, nestes domínios, foram capazes
de criar as gerações que os precederam ou suas contemporâneas. Na escola, a
arte e a poesia deveriam ocupar um lugar mais importante do que aquele que lhes
é concedido, em muitos países, por um ensino tornado mais utilitarista do que
cultural. A preocupação em desenvolver a imaginação e a criatividade deveria,
também, revalorizar a cultura oral e os conhecimentos retirados da experiência
da criança ou do adulto.
A educação é antes de mais nada uma viagem interior,
cujas etapas correspondem às da maturação contínua da personalidade.
Na hipótese de uma experiência profissional de
sucesso, a educação como meio para uma tal realização é, ao mesmo tempo, um
processo individualizado e uma construção social interativa.
Os tempos e as áreas da educação devem ser repensados,
completar-se e interpenetrar-se de maneira a que cada pessoa, ao longo de toda
a sua vida, possa tirar o melhor partido de um ambiente educativo em constante
ampliação.
Pistas e recomendações
Ø
A educação ao longo de toda a vida baseia-se em quatro
pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos,
aprender a ser.
Ø
Aprender a conhecer – também
significa aprender a aprender, para beneficiar das oportunidades
oferecidas pela educação ao longo de toda a vida.
Ø
Aprender a fazer, a fim de adquirir, não somente uma qualificação profissional mas também
competências que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a
trabalhar em equipa.
Ø
Aprender a viver juntos desenvolvendo a compreensão do outro e a perceção das interdependências —
realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos — no respeito pelos
valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz.
Ø
Aprender a ser, para melhor desenvolver a sua personalidade e estar à altura de agir com cada
vez maior capacidade de autonomia, de discernimento e de responsabilidade
pessoal. Para isso, não negligenciar na educação nenhuma das potencialidades de
cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas,
aptidão para comunicar.
Numa altura em que os sistemas educativos formais
tendem a privilegiar o acesso ao conhecimento, em detrimento de outras formas
de aprendizagem, importa conceber a educação como um todo.
CAPÍTULO 5
EDUCAÇÃO AO LONGO DE TODA A VIDA
A educação ocupa cada vez mais espaço na vida das
pessoas, à medida que aumenta o papel que desempenha na dinâmica das sociedades
modernas.
Hoje em dia, ninguém pode pensar adquirir, na
juventude, uma bagagem inicial de conhecimentos que lhe baste para toda a vida,
porque a evolução rápida do mundo exige uma atualização contínua dos saberes.
A própria educação está em plena mutação: as
possibilidades de aprender oferecidas pela sociedade exterior à escola
multiplicam-se, em todos os domínios, enquanto a noção de qualificação, no
sentido tradicional, é substituída em muitos setores modernos de atividade,
pelas noções de competência evolutiva e capacidade de adaptação.
Doravante, temos de aprender ao longo de toda a vida e
uns saberes penetram e enriquecem os outros.
É este o continuum educativo, co extensivo à
vida e ampliado às dimensões da sociedade, que se entendeu designar, pela
expressão “educação ao longo de toda a vida”. É a chave que abre as portas do
século XXI e, é a condição para um domínio mais perfeito dos ritmos e dos
tempos da pessoa humana.
Uma exigência democrática
A educação ao longo de toda a vida não é um ideal longínquo
mas uma realidade, para conseguir organizá-la é preciso deixar de considerar as
diferentes formas de ensino e aprendizagem como independentes umas das outras
e, de alguma maneira, sobrepostas ou concorrentes entre si, e procurar, pelo
contrário, valorizar a complementaridade dos espaços e tempos da educação
moderna.
A educação ao longo de toda a vida deve fazer com que
cada indivíduo saiba conduzir o seu destino, num mundo onde a rapidez das
mudanças se conjuga com o fenômeno da globalização para modificar a relação que
homens e mulheres mantêm com o espaço e o tempo. As alterações que afetam a
natureza do emprego, ainda circunscritas a uma parte do mundo, vão, com
certeza, generalizar-se e levar a uma reorganização dos ritmos de vida. A
educação ao longo de toda a vida torna-se assim, o meio para chegar a um
equilíbrio mais perfeito entre trabalho e aprendizagem bem como ao exercício de
uma cidadania ativa.
A educação básica bem-sucedida suscita o desejo de
continuar a aprender. Este desejo leva a continuar os estudos no seio do sistema
formal de ensino, mas os que desejarem fazê-lo de outra forma, devem poder ir
mais além. As pesquisas realizadas com adultos nas atividades educativas e
culturais mostram que esta procura, está relacionada com o nível de
escolaridade das pessoas.
Dá-se aqui, um
fenômeno cumulativo: quanto mais formado se é, mais desejo se tem de formação,
e esta tendência observa-se tanto em países desenvolvidos como nos países em
desenvolvimento. É por isso que o aumento de escolarização dos jovens, os
progressos da alfabetização e o novo impulso dado à educação básica, deixam
antever um aumento da procura da educação de adultos nas sociedades de amanhã.
Esta problemática está ligada à da igualdade de
oportunidades. À medida que se generaliza o desejo de aprender, garantia de
maior realização pessoal, corre-se o risco de ver aumentar, também, a
desigualdade, porque a insuficiência da formação inicial, ou a sua ausência,
podem comprometer gravemente a continuação da educação ao longo de toda a vida.
Este risco é confirmado pelo desnível existente entre países desenvolvidos e
países em desenvolvimento, mas também no interior das sociedades pelas
desigualdades perante a educação.
Se soubermos ter em conta as desigualdades e se nos
empenharmos em corrigi-las, através de medidas enérgicas, a educação ao longo
de toda a vida poderá dar novas oportunidades aos que não puderam, por razões
várias, ter uma escolaridade completa ou que abandonaram o sistema educativo em
situação de insucesso.
A reprodução das desigualdades educativas não é nem
total, nem automática, desde que se reforce a escolarização das populações mais
desfavorecidas ou se desenvolva a educação não-formal dos jovens que
abandonaram a escola precocemente.
Correspondendo a uma exigência democrática, seria
justo que este princípio estivesse presente, de maneira formal, em modalidades
mais flexíveis de educação, através das quais a sociedade apareceria, logo de
saída, como responsável pela igualdade de possibilidades de escolarização e de
formação posterior oferecidas a cada um no decurso da sua vida, sejam quais
forem os desvios ou incertezas do seu percurso educativo.
Uma educação pluridimensional
A educação ao longo de toda a vida é uma construção
contínua da pessoa humana, do seu saber e das suas aptidões, mas também da sua
capacidade de discernir e agir.
O saber, o saber-fazer, o saber viver juntos e o
saber-ser, constituem quatro aspetos, intimamente ligados, de uma mesma
realidade.
Se, por um lado, implica a repetição ou imitação de
gestos e de práticas, por outro é, também, um processo de apropriação singular
e de criação pessoal. Junta o conhecimento não-formal ao conhecimento formal, o
desenvolvimento de aptidões inatas à aquisição de novas competências. Implica
esforço, mas traz também a alegria da descoberta. Experiência singular de cada pessoa,
ela é também, a mais complexa das relações sociais, dado que se inscreve, ao
mesmo tempo, no campo cultural, no laboral e no da cidadania.
Nas sociedades tradicionais, a estabilidade da
organização produtiva, social e política garantia um ambiente educativo e
social relativamente imutável e marcado por ritmos de iniciação programados. Os
tempos modernos perturbaram os espaços educativos tradicionais: igreja,
família, comunidade de vizinhos. As necessidades de adaptação, de reciclagem,
que se fizeram sentir no campo profissional das sociedades industriais invadiram,
pouco a pouco, os outros países e as outras áreas de atividade. Contesta-se a
pertinência dos sistemas educativos criados ao longo dos anos — tanto formais
como informais — e a sua capacidade de adaptação é posta em causa. Estes
sistemas, apesar do extraordinário desenvolvimento da escolarização mostram-
se, por natureza, pouco flexíveis e estão à mercê do mínimo erro de
antecipação, sobretudo quando se trata de preparar competências para o futuro.
Se hoje em dia, nos inclinarmos para uma ideia de educação pluridimensional,
desenvolvida ao longo de toda a vida, que reúna as intuições fundamentais que
tiveram, no passado e nas diferentes culturas, os principais pensadores sobre
educação, é porque a concretização desta ideia nos parece cada vez mais necessária.
A teoria racionalista teve a utopia de achar que a
escola podia acautelar todas as necessidades educativas. O ambiente natural e
humano das pessoas tende a tornar-se planetário.
Novos tempos, novos campos
O aumento muito significativo da procura de educação,
por parte dos adultos, reveste-se de variadas formas capaz de reorientar a
educação em seu conjunto, para uma perspetiva de educação permanente.
A responsabilidade da sociedade no domínio da educação
é tanto maior quanto esta constitui, a partir de agora, um processo pluridimensional
que não se limita à aquisição de conhecimentos nem depende, unicamente, de
sistemas educativos.
À medida que o tempo dedicado à educação se confunde
com o tempo da vida de cada um, os espaços educativos, assim como as ocasiões
de aprender, tendem a multiplicar-se. O ambiente educativo diversifica-se e a
educação abandona os sistemas formais para se enriquecer com a contribuição de
outros atores sociais.
Para uma política da escolha do tempo de trabalho
No futuro, é preciso imaginar conceções inovadoras em
matéria de tempo de trabalho que tenham mais em conta as preferências
individuais dos trabalhadores, por um lado e as necessidades de flexibilidade
das empresas, por outro.
Uma política do tempo de trabalho que tivesse em conta
as necessidades familiares ou outras, poderia contribuir muito para conciliar a
vida familiar e a vida profissional, e para ultrapassar a divisão tradicional
de papéis entre homens e mulheres.
A Educação no coração da sociedade
A família constitui o primeiro lugar de toda e
qualquer educação e assegura, por isso, a ligação entre o afetivo e o
cognitivo, assim como a transmissão dos valores e das normas. As suas relações
com o sistema educativo são, por vezes, tidas como relações de antagonismo: em
alguns países em desenvolvimento, os saberes transmitidos pela escola podem
opor-se aos valores tradicionais da família; acontece também que as famílias
mais desfavorecidas encaram, muitas vezes, a instituição escolar como um mundo
estranho de que não compreendem, nem os códigos, nem as práticas.
O desenvolvimento harmonioso das crianças implica uma
complementaridade entre educação escolar e educação familiar.
A instituição escolar não se confunde com a comunidade
mas, guardando a sua especificidade, deve evitar desligar-se do ambiente
social. A comunidade a que pertencem constitui um poderoso vetor de educação,
quanto mais não seja pela aprendizagem da cooperação e da solidariedade ou, de
maneira mais profunda talvez pela aprendizagem ativa da cidadania. É a
coletividade, no seu conjunto, que deve sentir-se responsável pela educação de
seus membros, seja através de um diálogo constante com a instituição escolar
seja, onde esta não existir, tomando a seu cargo uma parte desta educação num
contexto de práticas não-formais.
A participação da comunidade nos organismos fez com
que se afirmassem como uma comunidade educada e produtiva.
Cultivar este sentimento de que pertencem à comunidade
e de coesão social, é um elemento intrínseco da estratégia aplicada, orientada
para a participação ativa do conjunto da comunidade no seu próprio
desenvolvimento, assim como para a formação permanente, e para a educação
formal e não-formal de todos os seus membros.
O mundo do trabalho constitui, um espaço privilegiado
de educação. Trata-se da aprendizagem de um conjunto de habilidades e importa
que seja mais reconhecido, na maior parte das sociedades, o valor formativo do
trabalho, em particular quando inserido no sistema educativo. Este
reconhecimento implica que se leve em conta, em especial por parte da
universidade, a experiência adquirida no exercício de uma profissão. O
estabelecimento sistemático de pontes entre a universidade e a vida
profissional deveria, nesta perspetiva, ajudar os que assim o desejassem a
completar a sua formação.
Devem multiplicar-se as parcerias entre o sistema
educativo e as empresas de modo a favorecer a aproximação necessária entre
formação inicial e formação contínua. As formações em alternância para os
jovens podem completar ou corrigir a formação inicial e, conciliando saber com
saber-fazer, facilitar a inserção na vida ativa. Podem, também, facilitar muito
a tomada de consciência pelos adolescentes das dificuldades e oportunidades da
vida profissional, ajudando-os a adquirir um conhecimento mais perfeito de si mesmos
e a saber orientar-se. Favorecem, ainda, o acesso à maturidade e são, ao mesmo
tempo, um importante fator de inserção social.
Na Alemanha existe o sistema da «formação dual». É um sistema
que está concebido de maneira evolutiva, de modo a adaptar-se às necessidades
de mudança da economia.
Importa superar o antagonismo entre educação e meios
de comunicação social apresentado, muitas vezes, como irredutível.
O sistema escolar e universitário tem toda a vantagem
em servir-se deles para os seus próprios fins, elaborando programas educativos
destinados a ser difundidos pela rádio e pela televisão nas escolas.
É importante que os professores formem, desde já, os
alunos para uma “leitura crítica” que os leve, por si mesmos, a usar a
televisão como um instrumento de aprendizagem, fazendo a triagem e
hierarquizando as múltiplas informações transmitidas.
Finalidade essencial da educação: levar cada um a
cultivar as suas aptidões, a formular juízos e a partir daí, a adotar
comportamentos livres.
Por outro lado, e sobre isto existe amplo acordo, os
meios de comunicação social constituem um vetor eficaz de educação não-formal e
de educação de adultos: por exemplo, as experiências da universidade aberta e
da educação a distância.
Para um aproveitamento das sinergias educativas
De acordo com os momentos da vida, damos prioridade a
um ou a outro dos diferentes espaços educativos, em que nos movemos mas convém
valorizar as relações de complementaridade que se criam entre eles, facilitar
as transições complexas de uns para outros, a fim de recriar uma verdadeira
coerência educativa que existia, sob outras formas, em muitas sociedades
tradicionais.
E neste sentido há que explorar, as sinergias
possíveis entre o saber e o saber-fazer, ou entre o saber-ser e o saber-viver juntos,
por consequência, a complementaridade das formas e dos espaços educativos
correspondentes.
A educação passa a ser um assunto que diz respeito a
todos os cidadãos que passam a ser atores e não mais simples consumidores
passivos de uma educação dada pelas instituições.
A educação descompartimentada no tempo e no espaço
torna-se, então, uma dimensão da própria vida.
Pistas e recomendações
Ø
O conceito de educação ao longo de toda a vida é a
chave que abre as portas do século XXI.
Ø
Aproxima-se de um outro conceito proposto com
frequência: o da sociedade educativa, onde tudo pode ser ocasião para aprender
e desenvolver os próprios talentos.
Ø
A educação
permanente é concebida - atualização, reciclagem e conversão e promoção
profissionais dos adultos.
Em suma, a “educação ao longo de toda a vida”, deve
aproveitar todas as oportunidades oferecidas pela sociedade.
TERCEIRA PARTE
ORIENTAÇÕES
CAPÍTULO 6
DA EDUCAÇÃO BÁSICA À UNIVERSIDADE
Longe de se oporem, educação formal e informal devem
fecundar-se mutuamente. Por isso, é necessário que os sistemas educativos se
adaptem a estas novas exigências: trata-se, de repensar e ligar entre si as
diferentes sequências educativas, de as ordenar de maneira diferente, de
organizar as transições e de diversificar os percursos educativos.
É no seio da família e ao nível da educação básica que
se forjam as atitudes perante a aprendizagem que durarão ao longo de toda a
vida.
O acesso ao saber pode tornar-se, ou não, uma
realidade. É então que cada um de nós adquire os instrumentos do futuro
desenvolvimento das suas capacidades de raciocinar e imaginar, da capacidade de
discernir, do senso das responsabilidades, é então que aprende a exercer a sua
curiosidade em relação ao mundo que o rodeia.
O ensino secundário deve estar adaptado aos diferentes
processos de acesso, à maturidade por parte dos adolescentes que variam
conforme as pessoas e os países, assim como às necessidades da vida econômica e
social. Convém diversificar os percursos dos alunos, a fim de corresponder à
diversidade dos talentos, de multiplicar as fases sucessivas de orientação com
possibilidades de recuperação e reorientação.
Deve ser instituído o desenvolvimento do sistema de
alternância.
Não se trata, apenas de aproximar a escola do mundo do
trabalho, mas de dar aos adolescentes os meios para enfrentar as realidades
sociais e profissionais e, deste modo, tomar consciência das suas fraquezas e
das suas potencialidades: tal sistema será para eles, com certeza, um fator de
amadurecimento.
Devem juntar a equidade à excelência, abrindo-se
plenamente aos membros de todos os grupos sociais e econômicos, sejam quais
forem os seus estudos anteriores. As universidades, em especial, devem dar o
exemplo inovando, com métodos que permitam atingir novos grupos de estudantes, reconhecendo
as competências e os conhecimentos adquiridos fora dos sistemas formais e dando
particular atenção a novas perspectivas de aprendizagem, graças à formação de
professores e de formadores de professores.
Para implementar na sociedade, um sistema em que cada
um possa aprender e continue a aprender ao longo de toda a sua vida é preciso
repensar as relações entre os estabelecimentos de ensino e a sociedade, assim
como a sequência dos diferentes níveis de ensino.
Um passaporte para a vida: a educação básica
Atingir os que continuam excluídos da educação não
exige apenas o desenvolvimento dos sistemas educativos existentes; é
necessário, conceber e aperfeiçoar modelos e sistemas novos destinados
expressamente a este ou àquele grupo, no quadro de um esforço coordenado que
tenha em vista dar a cada criança e adulto uma educação básica pertinente e de
qualidade.
O trabalho infantil no mundo de hoje
As crianças trabalhadoras estão expostas a riscos
muito graves de doenças ou de malefícios, muitos deles duradouros.
O esgotamento é a maior causa de acidentes e pode
impedir o desenvolvimento intelectual. As jovens estão particularmente
ameaçadas: por quase toda a parte elas fornecem um número de horas de trabalho
ainda maior do que os rapazes, tendo muitas vezes que desempenhar, ao mesmo
tempo, as tarefas econômicas e as domésticas.
O risco mais comum que correm as crianças sujeitas a
um número excessivo de horas de trabalho é não poder beneficiar de uma
educação.
A educação básica para as crianças pode ser definida
como uma educação inicial (formal ou não-formal) que vai, desde cerca dos três
anos de idade até aos doze, ou menos um pouco. A educação básica é um
indispensável “passaporte para a vida” que faz com que os que dela beneficiam
possam escolher o que pretendem fazer, possam participar na construção do
futuro coletivo e continuar a aprender. A educação básica é essencial se
quisermos lutar com êxito contra as desigualdades, nomeadamente entre sexos, no
interior dos países ou entre eles. É a primeira etapa a ultrapassar para
atenuar as enormes disparidades que afligem muitos grupos humanos: mulheres,
populações rurais, pobres das cidades, minorias étnicas marginalizadas e
milhões de crianças não escolarizadas que trabalham.
A educação é ao mesmo tempo universal e específica. Deve fornecer os fatores unificadores comuns a toda a humanidade,
abordando ao mesmo tempo as questões particulares que se põem, em situações
muito diferentes. Para escapar à segregação educativa que divide hoje em dia o
mundo, com uma educação, conhecimentos e competências de alto nível, postas à
disposição da maioria nos países industrializados e de uma pequena minoria nos
países não industrializados, há que tentar preencher o “déficit de
conhecimentos” que está intimamente ligado ao subdesenvolvimento.
Fixar como objetivos o direito à educação e a
igualdade de acesso para todos exige a implicação de diferentes categorias de
atores a vários níveis. É preciso prestar atenção à qualidade do ensino. A
educação básica é, ao mesmo tempo, uma preparação para a vida e o melhor
momento para aprender a aprender.
Logo a seguir à possibilidade de dispor de manuais escolares, um dos
fatores mais importantes da aprendizagem, é o tempo passado num ambiente de
aprendizagem.
Cada interrupção, cada incidente que reduza o tempo de
aprender compromete a qualidade dos resultados.
Os responsáveis pelas políticas educativas devem
preocupar-se, em fazer com que o ano escolar oficialmente previsto corresponda,
na maior parte dos casos, ao ano escolar efetivo. Como o ensino dá, muitas
vezes, grande importância ao sucesso nos exames, cabe às autoridades assegurar que
estes controlam adequadamente os conhecimentos e aptidões que se pretende que
os alunos adquiram. Por outro lado, é necessário rever, com cuidado, o conteúdo
dos programas e os métodos de ensino, se, se quiser ampliar o campo da
educação, de modo que não trate apenas de conhecimentos e do saber-fazer mas
englobe também a aptidão para viver juntos e a realização individual.
Educação pré-escolar
A iniciação à socialização que os centros e programas
de educação pré-escolar facultam, permite verificar que as crianças que
beneficiam deste tipo de educação têm uma disposição mais favorável em relação
à escola e correm menos riscos de a abandonar prematuramente do que as que não
tiveram essa oportunidade.
Uma escolarização iniciada cedo pode contribuir para a
igualdade de oportunidades, ajudando a superar as dificuldades iniciais de
pobreza, ou de um meio social ou cultural desfavorecido.
Além disso, a existência de estruturas educativas que
acolham as crianças em idade pré-escolar facilita a participação das mulheres
na vida social e econômica.
Crianças com necessidades específicas
A família é a primeira escola da criança, mas quando o
meio familiar falha ou é deficiente, incumbe à escola manter vivas, ou mesmo
fornecer, as potencialidades de aprendizagem.
Quando as crianças têm necessidades específicas que
não podem ser diagnosticadas ou satisfeitas no seio da família, é à escola que
compete fornecer ajuda e orientação especializadas de modo a que possam
desenvolver os seus talentos, apesar das dificuldades de aprendizagem e das
deficiências físicas.
Educação básica e alfabetização de adultos
Para os adultos, os programas de educação básica e de
alfabetização são, em geral, mais atraentes se estiverem associados à aquisição
de competências úteis à agricultura, ao artesanato ou a outras atividades
econômicas. A educação de adultos é, também, excelente ocasião de abordar as
questões do meio ambiente e da saúde, a educação em matéria de população e a
educação para a compreensão de valores e culturas diferentes. A utilização dos
meios de comunicação social para fins educativos pode contribuir para dar a
conhecer ao adulto um mundo que ultrapassa o quadro da sua reduzida experiência
individual e, em especial, a ciência e a tecnologia, omnipresentes no mundo
moderno, mas a que os cidadãos dos países em desenvolvimento têm ainda um
acesso muito limitado.
Participação e responsabilidade da coletividade
O sucesso da escolarização depende, em larga medida,
do valor que a coletividade atribui à educação.
O aumento da participação da comunidade deveria
traduzir-se tanto numa maior procura de serviços, como numa melhor compreensão
do que esses serviços podem oferecer.
Por maiores que sejam as vantagens, a participação das
comunidades e os poderes que lhes são outorgados comportam também
inconvenientes. É muito difícil generalizar as experiências.
Quando a tomada de decisões é descentralizada, pode
acontecer que o poder se concentre nas mãos de dirigentes locais que não representam
o conjunto da comunidade. Pode tornar-se mais difícil manter o nível e impor um
controle de qualidade. Mas quando as condições são favoráveis e o Estado
fornece o desejado apoio, os métodos participativos podem dar resultados
positivos.
É por isso que a participação da comunidade na
educação, sobretudo ao nível da educação básica, deve ser acompanhada pela
responsabilidade e ação vigorosa do Estado.
Ensino secundário: plataforma giratória de toda uma
vida
O ensino secundário parece cristalizar muitas das
esperanças e das críticas que suscitam os sistemas formais. Por um lado,
famílias e alunos consideram-no, muitas vezes, como a via de acesso à promoção
social e econômica. Por outro, é acusado de ser não igualitário, de estar pouco
aberto ao mundo exterior e, de um modo geral, de fracassar na preparação dos
jovens, tanto para o ensino superior como para a entrada no mundo do trabalho.
Argumenta-se, ainda, com a fraca pertinência das
matérias ensinadas e com a pouca importância dada à aquisição de atitudes e
valores.
Desde que encaremos a educação como um processo a
prosseguir ao longo de toda a vida temos de reconsiderar tanto os conteúdos,
como a organização do ensino secundário. Sob a pressão das exigências do
mercado de trabalho, a duração da escolaridade tende a aumentar.
Em muitos países, contudo, o aumento dos efetivos é
acompanhado pelo aumento do insucesso escolar, como se verifica pelas elevadas
taxas de repetência e de abandono o que provoca um desperdício de preciosos
recursos humanos e financeiros.
É pois possível, num contexto de educação permanente,
relacionar o ensino secundário com os três grandes princípios que são a diversidade das formações, a alternância a desenvolver entre o
estudo e uma atividade profissional ou social e a busca de melhorias qualitativas.
A diversidade no ensino secundário
Enquanto a educação básica, seja qual for a sua
duração, deve ter por objeto dar resposta às necessidades comuns ao conjunto da
população, o ensino secundário deveria ser o período em que os talentos mais
variados se revelam e desenvolvem.
É preciso preocupar- se mais com a qualidade e
preparação para a vida, num mundo em rápida transformação, frequentemente
submetido ao império da tecnologia.
Os alunos devem poder adquirir na escola instrumentos
que os habilitem, quer a dominar as novas tecnologias, quer a enfrentar os
conflitos e a violência.
É preciso cultivar neles a criatividade e a empatia de
que terão necessidade para serem, na sociedade de amanhã, cidadãos e ao mesmo
tempo atores e criadores.
Atualmente, os ensinamentos teóricos transmitidos no
nível secundário servem, muitas vezes, sobretudo, para preparar os jovens para
os estudos superiores, deixando à margem, mal equipados para o trabalho e para
a vida, os que não têm sucesso.
A formação profissional deve conciliar dois objetivos
divergentes: a preparação para os empregos existentes atualmente e uma
capacidade de adaptação a empregos que ainda nem sequer podemos imaginar.
Deve-se insistir mais no ensino das línguas para que o
maior número possível de jovens aprenda uma língua nacional e uma outra de
grande difusão.
É preciso descobrir meios inovadores para utilizar as
tecnologias informáticas e industriais para fins educativos, mas também e principalmente,
como garantia de qualidade da formação pedagógica e como meio de levar os
professores de todo o mundo a comunicarem-se entre si.
O primeiro passo, mesmo nos países de poucos recursos,
será dotar as escolas “centrais” de equipamento e de pessoal necessário, à
constituição de uma capacidade informática e de comunicação para que, por sua
vez, estejam à altura de apoiar todas as escolas “satélites”.
Orientação profissional
Os sistemas educativos deveriam ser suficientemente
flexíveis e respeitar as diferenças individuais, organizando módulos de estudo,
lançando pontes entre os diversos setores de ensino e, como se disse antes,
dando a possibilidade de retomar a educação formal após períodos de atividade
profissional.
A escolha de determinada via de ensino profissional ou
geral deveria basear-se numa avaliação séria que determine os pontos fortes e
fracos dos alunos.
A responsabilidade do ensino secundário é, pois,
imensa porque é muitas vezes durante essa fase da vida escolar que o futuro do
aluno, ganha forma. Deve, pois, abrir-se mais ao mundo exterior, permitindo que
cada aluno corrija o seu percurso em função da sua evolução cultural e escolar.
As tradicionais e as novas missões do ensino superior
O ensino superior é, em qualquer sociedade, um dos
motores do desenvolvimento econômico. É o instrumento principal de transmissão
da experiência cultural e científica acumulada pela humanidade.
São as universidades, antes de mais nada, que reúnem
um conjunto de funções tradicionais associadas ao progresso e a transmissão do
saber: pesquisa inovação, ensino e formação, educação permanente. A estas
podemos acrescentar uma outra que tem cada vez mais importância: a cooperação
internacional.
Todas estas funções podem contribuir para o
desenvolvimento sustentável. Na qualidade de centros autônomos de pesquisa e
criação do saber as universidades podem ajudar a resolver certos problemas de
desenvolvimento que se põem à sociedade.
Agora que o ensino superior é cada vez mais
pressionado a preocupar-se com os aspetos sociais, dá-se também cada vez mais
valor a outros atributos preciosos e indispensáveis das universidades como
sejam a liberdade acadêmica e a autonomia institucional. Embora não ofereçam
uma garantia de excelência tais atributos são, sem dúvida, uma condição prévia
para tal.
Lugar onde se aprende e fonte de saber
Numa época em que o volume de conhecimentos e de
informações passa por um crescimento exponencial, e em que se espera que as instituições
de ensino superior satisfaçam as necessidades educativas de um público cada vez
mais numeroso e variado, adquire cada vez mais importância a qualidade da
formação dada aos professores e a qualidade do ensino prestado pelas
instituições de ensino superior.
Assim, todos devem poder contar, mais ou menos diretamente,
com o ensino superior para aceder ao patrimônio cognitivo comum e beneficiar
das mais recentes pesquisas. O que supõe que a universidade estabeleça com a
sociedade uma espécie de contrato moral em troca dos recursos que esta lhe
concede.
O ensino superior e a evolução do mercado de
trabalho
As estruturas de emprego evoluem à medida que as
sociedades progridem e a máquina substitui o homem: diminui o número de
trabalhadores enquanto aumentam as tarefas de supervisão, de enquadramento e de
organização e crescem, deste modo, as necessidades de capacidades intelectuais
em todos os níveis. Em matéria de qualificação as exigências são cada vez
maiores.
A preocupação com a flexibilidade obriga a preservar,
sempre que possível, o caráter pluridimensional do ensino superior, a fim de
assegurar aos diplomados uma preparação adequada à entrada no mercado de
trabalho.
A universidade, lugar de cultura e de estudo
aberto a todos
As universidades são geralmente multidisciplinares, o
que permite a cada um ultrapassar os limites do seu meio cultural inicial. Têm,
em geral, mais contatos com o mundo internacional do que as outras estruturas
educativas.
A experiência do ensino a distância demonstrou que, no
nível do ensino superior, uma dose sensata de utilização dos meios de
comunicação social, de cursos por correspondência, de tecnologias de
comunicação informatizadas e de contatos pessoais, pode ampliar as
possibilidades oferecidas, a um custo relativamente baixo.
De acordo com a ideia segundo a qual cada um deve simultaneamente
aprender e ensinar, a universidade deve apelar mais à colaboração de
especialistas além dos professores de ensino superior.
Ensino superior e cooperação internacional
As instituições de ensino superior estão
extraordinariamente bem colocadas para, explorando o fenômeno da mundialização,
sanarem o “déficit de conhecimentos” e enriquecerem o diálogo entre povos e
entre culturas.
Setor econômico tem necessidade, também ele, de
estabelecer parcerias de pesquisa com as universidades, tanto no mundo
desenvolvido como no mundo em desenvolvimento, para estudar os problemas de
desenvolvimento nas diferentes regiões.
A livre circulação de pessoas e a partilha de
conhecimentos científicos são princípios importantes.
Um imperativo: a luta contra o insucesso escolar
O insucesso escolar constitui, uma pecha profundamente
inquietante no plano moral, humano e social; é, muitas vezes, gerador de
situações de exclusão que marcam os jovens para toda a vida.
- O primeiro objetivo dos sistemas educativos deve ser
reduzir a vulnerabilidade social dos jovens oriundos de meios marginais e
desfavorecidos, a fim de romper o círculo vicioso da pobreza e da exclusão.
As medidas a tomar passam pelo diagnóstico das
dificuldades dos alunos mais novos, muitas vezes ligadas à sua situação
familiar, e pela adoção de políticas de discriminação positiva.
- Deve-se recorrer a meios suplementares e a métodos
pedagógicos especiais a favor de públicos-alvo e de estabelecimentos situados
em zonas urbanas ou suburbanas desfavorecidas, como já se faz em numerosos
países.
- Pode-se pensar na organização de sistemas de apoio
em todos os estabelecimentos de ensino: criar percursos de aprendizagem mais
suaves e flexíveis para os alunos que estiverem menos adaptados ao sistema
escolar mas que se revelem dotados para outros tipos de atividades. O que
supõe, em particular, ritmos especiais de ensino e turmas reduzidas.
- As possibilidades de alternância entre escola e
empresa permitem, por outro lado, uma melhor inserção no mundo do trabalho.
O conjunto destas medidas deveria, se não suprimir,
pelo menos limitar significativamente o abandono da escola e as saídas do
sistema escolar sem qualificações.
Deve-se recorrer também a medidas de reinserção e de
recuperação para que os jovens que chegam ao mercado de trabalho sem
qualificações possam adquirir as competências necessárias à sua vida
profissional. A seguir, devem ser sistematicamente desenvolvidos dispositivos
que ofereçam novas oportunidades aos jovens e adultos marginalizados, mediante
o acesso a novos ciclos de formação.
A experiência das accelerated schools nos
Estados Unidos
O princípio das escolas intensivas, assenta na
convicção de que se pode conseguir que todos os alunos da mesma faixa etária
alcancem o mesmo nível de sucesso escolar no fim da sua escolaridade. Isto implica
que os alunos em situação de insucesso tenham de trabalhar a um ritmo mais
acelerado do que os alunos de meios privilegiados. Trata-se de oferecer a
alunos com dificuldades escolas de excelência. O insucesso não é uma
fatalidade.
Reconhecer as competências adquiridas graças a novas
formas de certificação
O diploma adquirido no fim da escolaridade constitui
ainda, muitas vezes, a única via de acesso a empregos qualificados, e os jovens
não diplomados, não tendo nenhuma competência reconhecida, não só se acham em
situação de insucesso no plano pessoal como estão também em situação de
inferioridade prolongada perante o mercado de trabalho.
É importante que as competências adquiridas,
especialmente durante a vida profissional, possam ser reconhecidas pelas
empresas mas também pelo sistema educativo formal incluindo o universitário.
Pistas e recomendações
Ø
Reforço da educação básica; daí a importância dada ao ensino primário e suas aprendizagens básicas
clássicas, ler, escrever — calcular, mas também poder exprimir-se numa
linguagem que facilite o diálogo e a compreensão.
Ø
Abertura ao universo da ciência.
Ø
Adaptar a educação
básica aos contextos particulares, aos países e populações mais
desfavorecidos.
Ø
Recordar as exigências da alfabetização e da educação
básica de adultos.
Ø
Privilegiar sempre a relação professor/aluno, sabendo
que as tecnologias mais avançadas só poderão contribuir para a relação
(transmissão, diálogo e confrontação) entre quem ensina e quem é ensinado.
Ø
O ensino secundário deve ser repensado nestas
perspectivas geral de educação ao longo de toda a vida. O princípio essencial é
organizar a diversidade de percursos educativos sem nunca fechar a
possibilidade de retornar, ulteriormente, ao sistema.
Ø
A universidade deve ocupar o centro do sistema educativo.
Cabem-lhe quatro funções essenciais:
1. Preparar para a pesquisa e para o ensino.
2. Dar formação altamente especializada e adaptada às
necessidades da vida econômica e social.
3. Estar aberta a todos para responder aos múltiplos
aspetos da chamada educação permanente, em sentido lato.
4. Cooperar no plano internacional.
Deve, também poder exprimir-se com toda a
independência e responsabilidade acerca de problemas éticos e sociais.
• A diversidade do ensino secundário e as
possibilidades oferecidas pela universidade deveriam dar respostas válidas aos
desafios da massificação, acabando com a obsessão pela “via principal e única”.
Combinadas com a generalização da alternância estudo/trabalho deveriam também
permitir lutar eficazmente contra o insucesso escolar.
• O desenvolvimento da educação ao longo de toda a
vida, implica que se estudem novas formas de certificação que levem em conta o
conjunto das competências adquiridas.
CAPÍTULO 7
OS PROFESSORES EM BUSCA DE NOVAS PERSPECTIVAS
A importância do papel do professor enquanto agente de
mudança, favorecendo a compreensão mútua e a tolerância, nunca foi tão
pertinente e patente como hoje.
Um mundo dividido, em que a alta tecnologia é apanágio
de alguns, dará lugar a um mundo tecnologicamente unido. É por isso que são
enormes as responsabilidades dos professores a quem cabe formar o caráter e o
espírito das novas gerações. A aposta é alta e põe em primeiro plano os valores
morais adquiridos na infância e ao longo de toda a vida.
Para melhorar a qualidade da educação é preciso, antes
de mais nada, melhorar o recrutamento, a formação, o estatuto social e as
condições de trabalho dos professores, pois estes só poderão responder ao que
deles se espera se possuírem os conhecimentos e as competências, as qualidades
pessoais, as possibilidades profissionais e a motivação requeridas.
Escola aberta ao mundo
Passando os alunos menos tempo na escola do que diante
da televisão, a seus olhos, é grande o contraste entre a gratificação
instantânea oferecida pelos meios de comunicação, que não lhes exige nenhum
esforço, e o que lhes é exigido para alcançarem sucesso na escola.
Devem encontrar-se o justo equilíbrio entre tradição e
modernidade, entre as ideias e atitudes próprias da criança e o conteúdo dos
programas.
À medida que a separação entre a sala de aula e o
mundo exterior se torna menos rígida os professores devem também esforçar-se
por prolongar o processo educativo para fora da instituição escolar,
organizando experiências de aprendizagem praticadas no exterior e, em termos de
conteúdos, estabelecendo ligação entre as matérias ensinadas e a vida
quotidiana dos alunos.
Hoje em dia, é cada vez mais importante para as
pessoas terem uma palavra a dizer nas decisões relativas à organização escolar.
Estas decisões têm influência direta nas condições de trabalho dos professores
e no que deles se exige, e estão na origem de outra contradição interna da
prática pedagógica moderna. Por um lado, as crianças só aprendem com
aproveitamento, se o professor tomar como ponto de partida do seu ensino, os
conhecimentos que elas já trazem consigo para a escola.
Por outro lado, para que possam adquirir autonomia,
criatividade e curiosidade de espírito, que são complementos necessárias à
aquisição do saber, o professor deve necessariamente manter uma certa distância
entre a escola e o meio envolvente, a fim de que as crianças e os adolescentes
tenham ocasião de exercer o seu senso crítico. O professor deve estabelecer uma
nova relação com quem está aprendendo.
O professor é que ajuda os seus alunos a encontrar,
organizar e gerir o saber, guiando mas não modelando os espíritos, e
demonstrando grande firmeza quanto aos valores fundamentais que devem orientar
toda a vida.
Aspirações e responsabilidades
A competência, o profissionalismo e o devotamento que
exigimos dos professores fazem recair sobre eles uma pesada responsabilidade.
Exige-se muito deles e as necessidades a satisfazer
parecem quase ilimitadas.
A profissão de professor é uma das mais fortemente
organizadas do mundo.
Ensinar, uma arte e uma ciência
A forte relação estabelecida entre professor e aluno
constitui o cerne do processo pedagógico.
Para quase todos os alunos, em especial para os que
não dominam ainda os processos de reflexão e de aprendizagem, o professor
contínua indispensável.
A prossecução do desenvolvimento individual supõe uma
capacidade de aprendizagem e de pesquisa autônomas que só se adquire após
determinado tempo de aprendizagem junto de um ou de vários professores.
O trabalho do professor não consiste simplesmente em
transmitir informações ou conhecimentos, mas em apresentá-los sob a forma de
problemas a resolver, situando-os num contexto e colocando- os em perspectiva
de modo que o aluno possa estabelecer a ligação entre a sua solução e outras
interrogações mais abrangentes.
A relação pedagógica visa o pleno desenvolvimento da
personalidade do aluno no respeito pela sua autonomia e, deste ponto de vista,
a autoridade de que os professores estão revestidos tem sempre um caráter
paradoxal, uma vez que não se baseia numa afirmação de poder mas no livre
reconhecimento da legitimidade do saber. Esta noção de autoridade poderá
evoluir mas, por enquanto, permanece essencial, pois é dela que derivam as
respostas às questões que o aluno coloca sobre o mundo e é ela que condiciona o
sucesso do processo pedagógico. Além disso, a necessidade de o ensino
contribuir para a formação da capacidade de discernimento e do sentido das
responsabilidades individuais, impõe-se cada vez mais nas sociedades modernas
se, se, pretende que os alunos sejam, mais tarde, capazes de prever as
mudanças, continuando a aprender ao longo de toda a vida.
O trabalho e diálogo com o professor ajudam a
desenvolver o senso crítico do aluno.
A grande força dos professores reside no exemplo que
dão, manifestando sua curiosidade e sua abertura de espírito, e mostrando- se
prontos a sujeitar as suas hipóteses à prova dos fatos e até a reconhecer os
próprios erros. Devem, sobretudo, transmitir o gosto pelo estudo.
Qualidade dos professores
O rápido aumento da população escolar no mundo trouxe
consigo um recrutamento em massa de professores.
A entrada na escola de alunos com grandes dificuldades
no ambiente social e familiar impõe novas tarefas aos professores para as quais
eles estão muitas vezes mal preparados.
Quanto maiores forem as dificuldades que o aluno tiver
de ultrapassar — pobreza, meio social difícil, doenças físicas — mais se exige
do professor.
Para ser eficaz terá de recorrer a competências
pedagógicas muito diversas e a qualidades humanas como a autoridade, empatia,
paciência e humildade. Se o primeiro professor que a criança ou o adulto
encontra na vida tiver uma formação deficiente ou se revelar pouco motivado,
são as próprias fundações sobre as quais se irão construir as futuras
aprendizagens que ficarão pouco sólidas.
Melhorar a qualidade e a motivação dos professores
deve, pois, ser uma prioridade em todos os países. Indicam-se, a seguir,
algumas medidas:
- Recrutamento, Formação inicial, Formação contínua,
Professores de formação pedagógica, Controle, Gestão, Participação de agentes
exteriores à escola, Condições de trabalho, Meios de ensino.
Aprender o que ensinar e como ensinar
A formação de professores deve, inculcar-lhes uma
conceção de pedagogia que transcende o utilitário e estimule a capacidade de
questionar, a interação, a análise de diferentes hipóteses. Uma das finalidades
essenciais da formação de professores, quer inicial, quer contínua, é
desenvolver neles as qualidades de ordem ética, intelectual e afetiva que a
sociedade espera deles de modo a poderem em seguida cultivar nos seus alunos o
mesmo leque de qualidades.
Uma formação de qualidade supõe que os futuros
professores sejam postos em contato com professores experimentados e com
pesquisadores que trabalham nas suas respectivas disciplinas.
Os professores em ação
Escola e coletividade
Reforçar a ligação entre a escola e a comunidade local
constitui, pois, um dos principais meios de fazer com que o ensino se
desenvolva em simbiose com o meio.
Administração escolar
Um bom administrador, capaz de organizar um trabalho
de equipa eficaz e tido como competente e aberto consegue, muitas vezes,
introduzir no seu estabelecimento de ensino grandes melhorias. É preciso pois,
que fazer com que a direção das escolas seja confiada a profissionais
qualificados, portadores de formação específica, sobretudo em matéria de
gestão. Esta qualificação deve conferir aos gestores um poder de decisão
acrescido e gratificações que compensem o bom exercício das suas delicadas
responsabilidades.
Em certos casos, para melhorar a assiduidade, a
qualidade do ensino e a coesão escolar, revelou-se útil fazer com que os pais
colaborassem com os professores na tarefa de ensinar.
Condições propícias a um ensino eficaz
Para poderem fazer um bom trabalho os professores
devem não só ser profissionais qualificados mas também beneficiar-se de apoios
suficientes. O que supõe, além dos meios de trabalho e dos meios de ensino
adequados, a existência de um sistema de avaliação e de controlo que permita
diagnosticar e remediar as dificuldades, e em que a inspeção sirva de
instrumento para distinguir e encorajar o ensino de qualidade.
Fazer participar os
professores nas decisões relacionadas com a educação.
Pistas e recomendações
- É urgente revalorizar o seu
estatuto se, se quiser que a “educação ao longo de toda a vida” cumpra a missão
central.
- A educação ao longo de toda a
vida conduz, diretamente, ao conceito de sociedade educativa.
- Os professores são também afetados por esta necessidade
de atualização de conhecimentos e competências.
- O trabalho em equipa é indispensável.
- É importante a permuta de professores e as parcerias
entre instituições de países diferentes.
CAPÍTULO 8
OPÇÕES EDUCATIVAS:O PAPEL DO POLÍTICO
Atualmente, no mundo inteiro exige-se dos sistemas
educativos que façam mais e melhor. Dar resposta às exigências de
desenvolvimento econômico e social.
Devem, também, dar resposta às exigências culturais e
éticas cuja responsabilidade lhes cabe assumir. Finalmente, têm de vencer o
desafio da tecnologia que, com os riscos eventuais que isso comporta, constitui
uma das principais vias de acesso ao século XXI. Todos esperam, pois, algo da
educação.
É preciso que se façam opções que podem ser difíceis,
sobretudo quando está em causa a equidade e a qualidade dos sistemas
educativos.
Deve haver coerência entre as opções e as estratégias
adotadas no espaço social e no tempo. Cabe ao político, a quem compete definir
o futuro por uma visão a longo prazo, assegurar ao mesmo tempo a estabilidade
do sistema educativo e a sua capacidade de se reformar, garantir a coerência do
conjunto, estabelecendo prioridades e, finalmente, abrir um verdadeiro debate
da sociedade sobre as opções econômicas e financeiras.
Opções educativas, opções de sociedade
A demanda por educação
Afluxo das diversas procuras, ao convergir na sua
maior parte sobre os organismos públicos, impõe opções de organização que são,
de fato, opções sociopolíticas.
Os tomadores de decisões vêem-se, efetivamente, confrontados
com interesses contraditórios.
Avaliação e debate público
As opções educativas implicam, pois, a sociedade no
seu conjunto e exigem a abertura de um debate democrático, não só sobre os
meios, mas também sobre as finalidades da educação.
Este debate deve apoiar-se numa avaliação profunda do
sistema educativo, em termos que possam ser aceites por todos e não deverá ser
de natureza estritamente econômica.
O sistema educativo forma um todo; a interdependência
das suas partes é tão grande e a integração na sociedade tão forte que é, por
vezes, muito difícil descobrir as causas de determinada disfunção.
A avaliação da educação deve ser entendida em sentido
amplo. Não visa, unicamente, a oferta educativa e os métodos de ensino mas
também os financiamentos, gestão, orientação geral e a prossecução de objetivos
a longo prazo. Remete para noções como o direito à educação, equidade,
eficiência, qualidade, aplicação global de recursos e depende, em grande parte,
dos poderes públicos.
É necessário desencadear um dispositivo de avaliação
objetivo e público de modo a apreender a situação do sistema educativo, assim
como o seu impacto no resto da sociedade.
Finalmente deve também considerar-se que qualquer
avaliação tem um valor pedagógico.
Oportunidades oferecidas pela inovação e
descentralização
Associar os diferentes atores sociais à tomada de
decisões constitui, efetivamente, um dos principais objetivos e, sem dúvida, o
meio essencial de aperfeiçoamento dos sistemas educativos.
A autonomia dos estabelecimentos de ensino constitui
um fator essencial de desenvolvimento de iniciativas locais porque permite uma
maior colegialidade no trabalho dos professores.
Favorecer uma verdadeira autonomia das escolas
A autonomia dos estabelecimentos de ensino
manifesta-se, em primeiro lugar, na gestão de recursos: é importante que a
distribuição de uma parte significativa dos recursos atribuídos possa ser
decidida ao nível de escola.
De uma maneira geral convém desenvolver, em cada
estabelecimento de ensino, processos que definam o papel dos diferentes atores,
favorecendo a cooperação entre professores, direção e pais, assim como o
diálogo com o conjunto da comunidade local.
A prática da negociação e da conciliação na gestão de
estabelecimentos de ensino e na vida escolar constitui, em si mesma, um fator
de aprendizagem democrática. Por outro lado, a autonomia das escolas estimula
fortemente a inovação. Nos sistemas excessivamente centralizados a inovação
tende a limitar-se a experiências piloto, destinadas a servir de base, em caso
de sucesso, a medidas de caráter geral.
O sucesso das inovações depende, essencialmente, das
condições locais.
A descentralização dos sistemas educativos, apoiada na
autonomia das escolas e na participação efetiva dos agentes locais, pensa que
esta tendência é reforçada pela necessidade de uma educação que se estenda ao
longo de toda a vida, assim como pela emergência de sociedades educativas
voltadas para os recursos da educação informal. Está, contudo, consciente de
que as formas de organização e de gestão da educação não são fins em si mesmas,
mas instrumentos cujo valor e eficácia dependem muito do contexto político,
econômico, social e cultural. As medidas de descentralização podem ser levadas
a cabo tanto através de processos democráticos como de processos arbitrários e
geradores de exclusões sociais.
Necessidade de uma regulamentação do conjunto do
sistema
Seja qual for a organização do sistema educativo, mais
ou menos descentralizado ou mais ou menos diversificado, o Estado deve assumir
um certo número de responsabilidades para com a sociedade civil, na medida em
que a educação constitui um bem de natureza coletiva que não pode ser regulado
apenas pelas leis de mercado. Trata-se, em particular, de criar um consenso
nacional sobre educação, de assegurar uma coerência de conjunto e de propor uma
visão a longo prazo.
Uma das primeiras tarefas dos poderes públicos
consiste em suscitar um amplo acordo entre os diferentes atores sobre a
importância da educação e sobre o seu papel na sociedade.
É igualmente necessário assegurar a gestão programada
das interdependências entre os diferentes elementos do sistema educativo, sem
perder de vista o caráter orgânico das relações entre as diferentes categorias
de ensino.
As políticas educativas devem ser políticas a longo
prazo, o que supõe que fica assegurada a continuidade das opções e a
concretização das reformas.
Na lógica da equidade e do respeito pelo direito à
educação trata-se, pelo menos, de evitar que o acesso à educação seja recusado
a determinadas pessoas ou grupos sociais; é sobretudo importante que o Estado
possa ter um papel redistributivo, principalmente em favor de grupos
minoritários ou desfavorecidos.
Deve assegurar a clareza e a legibilidade do sistema
educativo, garantindo assim a estabilidade do conjunto, e por outro suscitar
parcerias, encorajar inovações educativas, isto é, liberar novas energias para
a educação.
Opções econômicas e financeiras
O peso das dificuldades financeiras
A implantação de um ensino de massa, mesmo no
superior; o aumento das necessidades em formação contínua ou a redução provável
do tempo de trabalho que oferece novas ocasiões para aprender — poderão
igualmente contribuir para um aumento da procura social de educação nos países
desenvolvidos.
Orientações para o futuro
- Aumentar os recursos públicos destinados à educação.
O desenvolvimento da educação permite, de fato, lutar contra um conjunto de
fatores de insegurança: desemprego, exclusão social, desigualdades de
desenvolvimento entre nações, conflitos étnicos ou religiosos.
A educação não é apenas uma despesa social mas também
um investimento econômico e político, gerador de benefícios a longo prazo. “Os
sistemas educativos têm por missão formar os indivíduos para a cidadania,
assegurar a transmissão de conhecimentos e de cultura entre gerações,
desenvolver as aptidões pessoais. Têm ainda por missão formar as pessoas
qualificadas de que as economias virão a ter necessidade no futuro”. O
desenvolvimento de um país supõe, em particular, que a sua população ativa
saiba utilizar as tecnologias complexas e dê prova de criatividade e de
espírito de adaptação, atitudes que dependem em grande parte do nível de
formação inicial das pessoas. O investimento educativo é, assim, uma condição
essencial do desenvolvimento econômico e social a longo prazo e deve ser
protegido em períodos de crise.
É igualmente possível encarar a hipótese de sistemas
de financiamento misto, combinando fundos públicos e privados em proporções
variáveis segundo os níveis de ensino, assegurando sempre a gratuidade da
educação básica.
Prioridade à educação básica no investimento público
Uma repartição mais eficaz, equitativa e duradoura dos
novos investimentos públicos consagrados à educação seria uma grande ajuda para
que os sistemas educativos possam vencer os desafios com que se defrontam
atualmente. A eficácia consiste em investir o dinheiro público onde ele produza
o rendimento mais elevado — no caso da educação é, geralmente, na educação
básica.
A descentralização da administração e uma maior
autonomia das escolas conferem também maior eficácia às despesas com a
educação, permitindo uma melhor adaptação às necessidades locais. Já vimos que
essas despesas devem ser inscritas no quadro de uma regulamentação do conjunto,
a fim de evitar incoerências de gestão.
Por outro lado, diversas medidas podem ser
consideradas, para melhorar a relação custo/eficácia da educação nos países em
desenvolvimento, como o prolongamento do ano escolar, a construção de
estabelecimentos escolares a custos reduzidos ou o desenvolvimento do ensino a
distância. Mas importa pôr de lado, a todo o custo, qualquer tentativa de
produtividade a curto prazo que possa comprometer a qualidade do ensino. Assim,
o aumento do número de alunos por turma não tem razão de ser quando esse número
já é muito elevado, como acontece nos países com maiores dificuldades.
Finalmente, é preciso não esquecer que qualquer medida tendente a baixar o
nível de exigência no recrutamento e formação de professores é prejudicial à
qualidade do ensino e compromete gravemente o futuro.
Dado que a educação deve prosseguir ao longo de toda a
vida, poderia pensar-se em atribuir a cada jovem, no momento em que começa a
sua escolaridade, um crédito de tempo para educação, correspondente a
determinado número de anos de ensino. Cada jovem disporia deste capital de
acordo com a sua experiência escolar e as suas próprias opções.
Recurso aos meios oferecidos pela sociedade da
informação
Impacto das novas tecnologias na sociedade e na
educação
As sociedades atuais são pois todas, pouco ou muito,
sociedades da informação nas quais o desenvolvimento das tecnologias pode criar
um ambiente cultural e educativo suscetível de diversificar as fontes do
conhecimento e do saber. Por outro lado, as tecnologias caracterizam-se pela
sua complexidade crescente e pela gama cada vez mais ampla de possibilidades
que oferecem.
Os contrastes profundos entre países industrializados
e países em desenvolvimento, em matéria de capacidade de investimento, de
potencial de pesquisa e conceção, de resultados comerciais ou de taxas de
rentabilidade. Acrescente-se a isto o fato dos países em desenvolvimento terem
também prioridades educativas diferentes, por terem níveis de escolarização
menos elevados e infraestruturas menos desenvolvidas. As prioridades em matéria
de utilização das tecnologias na educação serão então também diferentes.
Um debate que compromete em larga escala o
futuro
A utilização destas tecnologias no ensino a distância,
já muito comum, constitui uma primeira via indiscutivelmente promissora para
todos os países.
O lugar dos meios de comunicação e das tecnologias
educativas nos diferentes sistemas de ensino a distância é muito variável e
pode ser adaptado à situação e às infraestruturas de cada país.
Tudo leva também a crer que as novas tecnologias
desempenharão um papel cada vez mais importante na educação de adultos, de
acordo com as condições próprias de cada país, e que deverão ser um dos
instrumentos da educação ao longo de toda a vida.
As novas tecnologias oferecem, como instrumentos de educação
de crianças e adolescentes, uma oportunidade sem precedentes de responder com
toda a qualidade necessária a uma procura cada vez mais intensa e
diversificada.
O recurso às novas tecnologias constitui, também, um
meio de lutar contra o insucesso escolar: observa-se, muitas vezes, que alunos
com dificuldades no sistema tradicional ficam mais motivados quando têm
oportunidade de utilizar essas tecnologias e podem, deste modo, revelar melhor
os seus talentos.
Em direção a uma sociedade que aprende
Ensinar é uma arte e nada pode substituir a riqueza do
diálogo pedagógico.
Munidos destes novos instrumentos, os alunos tornam-se
pesquisadores.
Os professores ensinam aos alunos a avaliar e gerir,
na prática, a informação que lhes chega. Este processo revela-se muito mais próximo
da vida real do que os métodos tradicionais de transmissão do saber. Começam a
surgir nas salas de aula novos tipos de relacionamento.
Tendo em vista as diversas vantagens, a questão da
utilização de novas tecnologias na educação constitui uma opção financeira,
social e política e deve ser uma das principais preocupações dos governos e das
organizações internacionais.
O desenvolvimento das novas tecnologias não diminui em
nada o papel dos professores, antes pelo contrário; mas modifica-o
profundamente e constitui para eles, uma oportunidade que devem aproveitar.
A experiência, de fato, tem demonstrado que a
tecnologia mais avançada não tem qualquer utilidade para o meio educativo, se o
ensino não estiver adaptado à sua utilização. Há, pois, que elaborar conteúdos
programáticos que façam com que estas tecnologias se tornem verdadeiros
instrumentos de ensino, o que supõe, da parte dos professores, vontade de
questionar as suas práticas pedagógicas.
Além disso devem ser sensíveis também às modificações
profundas que estas novas tecnologias provocam nos processos cognitivos. Já não
basta que os professores ensinem os alunos a aprender, têm também de os ensinar
a procurar e a relacionar entre si as informações, revelando espírito crítico.
Tendo em conta a quantidade enorme de informações que circulam atualmente nas
redes de informação, ser capaz de se orientar no meio dos saberes tornou-se um
pré-requisito do próprio saber, e necessita daquilo que alguns já chamam nova
alfabetização.
A educação ao longo de toda a vida permite dar uma
orientação a esta dimensão social da educação. Supõe a implementação de uma
escola básica de caráter universal, de boa qualidade e acessível a todos, seja
qual for a sua situação geográfica, material, social ou cultural. Oferece a
todos a possibilidade de dispor de novas oportunidades, terminado o ciclo de
educação inicial.
Pistas e recomendações
Ø As opções educativas são opções de sociedade: exigem, em todos os países,
um amplo debate público baseado na avaliação rigorosa dos sistemas educativos.
Ø Preconizam a adoção de medidas que permitam associar os diferentes atores
sociais às tomadas de decisão em matéria educativa; pensa-se que a
descentralização administrativa e a autonomia das escolas pode levar, na maior
parte dos casos, ao desenvolvimento e generalização da inovação.
Ø Ao político cabe-lhe o dever de apresentar as opções com clareza e
assegurar uma regulamentação do conjunto, mediante as necessárias adaptações. A
educação constitui, de fato, um bem coletivo que não pode ser regulado, pelo
simples jogo do mercado.
Ø Para os países em desenvolvimento, o
financiamento público da educação básica continua a ser uma prioridade, mas as
opções feitas não devem pôr em causa a coerência do sistema no seu conjunto,
nem sacrificar os outros níveis de ensino.
Ø É indispensável que as estruturas de
financiamento sejam reexaminadas à luz do princípio segundo o qual, a educação
se deve desenvolver ao longo de toda a vida da pessoa.
Ø A proposta de um crédito de tempo para a educação, tal como é formulada
merece ser debatida e aprofundada.
Ø A diversificação e aperfeiçoamento do ensino à distância recorrendo às
novas tecnologias.
Ø A crescente utilização destas tecnologias no âmbito da educação de adultos,
em particular para a formação contínua de professores.
Ø O reforço das infraestruturas e capacidades dos países em desenvolvimento
neste domínio, assim como a difusão das tecnologias por toda a sociedade:
trata-se, em qualquer dos casos, de pré-requisitos à sua utilização no contexto
dos sistemas educativos formais.
Ø
O lançamento de programas de difusão de novas
tecnologias.
CAPÍTULO 9
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL: EDUCAR A ALDEIA GLOBAL
As mulheres e as jovens: uma educação para a igualdade
A educação das mulheres e
das jovens é um investimento no futuro, quer seja para melhorar a saúde pública
das famílias, a escolarização das crianças ou a vida comunitária. É educando as
mães e promovendo a condição feminina, em geral, que as sociedades terão êxito
e melhores hipóteses de sobrevivência.
O mundo em que vivemos, dominado quase exclusivamente
pelos homens, tem muito mais a aprender com a emancipação feminina, do que a
temer.
Educação e desenvolvimento social
Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social, realizada
em Copenhaga em março de 1995. Os Estados participantes comprometeram-se:
- A promover o acesso universal e equitativo a um
ensino de qualidade;
- Assegurar a todos o mais alto nível de saúde física e
mental e os cuidados primários de saúde;
- A respeitar e promover as culturas comuns e
particulares;
- A reforçar o papel da cultura no processo de
desenvolvimento.
Declararam que se empenhariam em corrigir:
- As desigualdades sociais, sem qualquer distinção de
raça, nacionalidade, sexo, idade ou limitação física.
A preservar:
- As bases essenciais de um desenvolvimento
sustentável, centrado no ser humano e contribuir para a otimização dos recursos
humanos e para o desenvolvimento social.
Os objetivos devem ser eliminar a pobreza, promover o pleno
emprego e o emprego produtivo e favorecer a integração social. Tendo em conta a
contribuição própria da educação para o desenvolvimento social, esta deve poder
dispor de uma proporção significativa da ajuda pública ao desenvolvimento.
Desenvolver a conversão de dívidas em proveito da
educação
A educação é um investimento
económico, social e humano a longo prazo.
A escolarização exige um
aumento significativo dos orçamentos nacionais, por vezes a percentagem do PNB,
dedicada à educação é baixa, devido à divida nacional. É necessário diminuir a
divida nacional para se poder aplicar à educação uma parte do rendimento
nacional.
Para um observatório UNESCO das novas tecnologias da
informação
As novas tecnologias da informação quando se instalam,
nas sociedades, modificam as relações de trabalho e criam, à margem do mundo
real, um mundo virtual cujas promessas e perigos são ainda muito difíceis de
avaliar. Podem dar uma contribuição preciosa aos sistemas educativos. Há, pois,
que difundir essas tecnologias em todos os países para evitar que se cave um
novo fosso entre países ricos e países pobres, o que poderia comprometer as
tentativas de reequilíbrio.
Dois aspetos a avaliar, a incidência destas novas
tecnologias tanto no desenvolvimento das sociedades como nos processos
educativos.
Passar da assistência à parceria
Assiste-se hoje em dia a uma alteração da conceção e
dos papéis a atribuir à assistência internacional. Estamos num momento de
mudança em que são postas em questão as formas clássicas de assistência e de
cooperação e em que se começa a impor a necessidade de transformar a
“assistência” em “parceria”. Tanto os países que recebem ajuda como os que a
concedem buscam novas formas de cooperação assentes verdadeiramente na troca e
na vantagem mútua. Num contexto em que, independentemente dos fatores locais, a
maior parte dos problemas a resolver transcendem as fronteiras locais e
regionais, a cooperação é uma exigência ao mesmo tempo política e prática.
É inegável que, no passado, além de um capital de
conhecimentos e de ajuda material, também transmitiram, muitas vezes, aos
países em desenvolvimento, os seus preconceitos, as suas opiniões formadas e os
seus erros. Em muitos países desenvolvidos as crises econômicas e as crises de
emprego alertaram para a complexidade das relações entre educação e emprego, ou
entre educação e coesão social. Hoje em dia os países doadores são levados a
retirar ensinamentos da própria experiência nacional e a ter em conta, em
matéria de cooperação internacional, os sucessos e os fracassos do passado.
Parece indispensável, tanto para a cooperação
internacional como para a elaboração de políticas nacionais, considerar o sistema
educativo em sua totalidade e conceber as reformas como um processo democrático
que passe por processos de consulta, e ligado a uma política social, também
ela, respeitadora da prática democrática, dos direitos do homem e do direito em
geral. É preciso encontrar também meios de orientar mais eficazmente a
cooperação internacional para a luta contra a pobreza: no domínio da educação é
preciso um esforço combinado para fazer chegar o ensino aos que dele estiveram
excluídos até agora.
É preciso estimular a livre circulação de pessoas e
conhecimentos, para acabar com a diferença existente, neste domínio, entre os
países desenvolvidos e o resto do mundo.
UNESCO - as
finalidades sociais da educação não devem jamais deixar perder de vista a
primazia do ser humano.
Pistas e recomendações
- A necessidade de uma cooperação internacional.
- No plano da cooperação internacional, promover uma política
favorável e fortemente incentivadora da educação das jovens e das mulheres.
- Perspectivas de parceria favorecendo, especialmente,
a cooperação e intercâmbio no seio de grupos regionais.
- Destinar ao financiamento da educação, a quarta
parte da ajuda destinada ao desenvolvimento.
- Estimular a conversão de dívidas, a fim de compensar
os efeitos negativos sobre as despesas com a educação, das políticas de
ajustamento e de redução de déficits internos e externos.
- Ajudar a reforçar os sistemas educativos nacionais
encorajando alianças e a cooperação entre ministérios em nível regional, e
entre países.
- Ajudar os países a acentuar a dimensão internacional
do ensino ministrado.
- Estimular novas parcerias entre as instituições
internacionais que se dedicam à educação.
- Constituir um conjunto de indicadores que sirvam
para detetar as disfunções mais graves dos sistemas educativos.
- Dentro de um espírito prospetivo, criar um
observatório.
- Estimular por intermediário da UNESCO a cooperação
intelectual no domínio da educação.
- Reforçar a ação normativa da UNESCO a serviço de
seus Estados membros.
EPÍLOGO
EDUCAÇÃO E EXCELÊNCIA: INVESTIR NO TALENTO In’am Al-Mufti
Educação para todos
Os países em desenvolvimento pretendiam, atingir o
objetivo da “educação para todos” fixado pela UNESCO. Mas o desenvolvimento da
educação consistiu, sobretudo, em dar resposta à crescente procura de instrução
escolar, deixando de conceder prioridade à qualidade da educação ministrada.
Daí escolas superlotadas, métodos de ensino ultrapassados, à base de
aprendizagens memorizadas, e professores incapazes de se adaptarem a métodos
mais modernos, como a participação democrática na sala de aula, a aprendizagem
cooperativa e a resolução de problemas, fazendo apelo à imaginação.
Um fato significativo é que esta vasta e rápida
expansão do sistema educativo e o seu peso excessivo em muitos países
impediram- no de se ocupar, convenientemente, da equidade na educação, segundo
a qual se devem oferecer experiências de aprendizagem adaptadas às necessidades
dos alunos que apresentam aptidões muito variadas.
A ambição prioritária de garantir educação a todos fez
com que se negligenciassem as necessidades dos alunos mais dotados e se lhes
aplicasse um tratamento idêntico aos alunos com aptidões diferentes.
“Nada há de mais desigual do que tratar igualmente quem não é igual”. Jefferson,
Privar os alunos mais dotados de possibilidades
adequadas de educação é privar a sociedade dos recursos humanos mais preciosos
que ela possui para chegar a um desenvolvimento real e eficaz.
Perante esta situação é preciso criar outras
possibilidades de educação, com conteúdos e métodos mais elaborados, para dar
resposta às diferenças individuais. Os professores deveriam ser preparados para
se adaptar às necessidades de aprendizagem diferentes dos alunos brilhantes.
Uma das grandes prioridades de qualquer escola deveria ser elaborar e
desenvolver programas estimulantes que ofereçam um vasto campo de
possibilidades de aprendizagens muito avançadas, de modo a responder às
necessidades dos alunos mais dotados.
EDUCAÇÃO E COMUNIDADES HUMANAS REVIVIFICADAS — UMA VISÃO DA ESCOLA SOCIALIZADORA
NO NOVO SÉCULO
Roberto Carneiro
Partindo-se do princípio de que a educação é um bem
público, a escola deve ser considerada, como uma instituição social pertencendo
à sociedade civil.
Tomando por referência a teoria filosófica de Hannah
Arendt, são três as esferas constitutivas da vida social: esfera pública,
esfera de mercado e esfera privada. Enquanto compete à primeira sustentar os
valores da equidade, Arendt considera que o mercado e o mundo do trabalho
conduzem à discriminação, ao passo que a esfera privada é marcada pela exclusão
que é o corolário de escolhas individuais.
A escola é tipicamente uma esfera de ação pública como
ambiente e locus de socialização, sem deixar de contribuir,
simultaneamente, para as esferas econômica e privada, através da acumulação de
qualificações e de capital humano que ela produz.
Em sociedades cada vez mais complexas e
multiculturais, a emergência da escola como esfera pública acentua a sua
relevância insubstituível na promoção da coesão social, da mobilidade humana e
da aprendizagem da vida em comunidade.
Nesta mesma escola, que constitui um pilar essencial
da educação ao longo de toda a vida, adquirem-se também as competências básicas
para a socialização permanente, isto é, para a consolidação de culturas
resistentes à exclusão, assentadas em atitudes proactivas e capazes de
reinventar a cada etapa novos e mobilizadores papéis sociais. A educação e a
realização seguem juntas ao longo de toda a vida.
Bibliografia:
- Educação um Tesouro a descobrir – Relatório para a UNESCO da Comissão
Internacional sobre Educação para o século XXI, coordenador Jacques
Delors,1996, 9º edição, Edições Asa.
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