TEMA III
OS SISTEMAS DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PARA A EUROPA DO CONHECIMENTO
OS SISTEMAS DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PARA A EUROPA DO CONHECIMENTO
Em
março de 2000, os Estados-Membros da União Europeia, na reunião do Conselho
Europeu que se realizou em Lisboa, estabeleceram um objetivo estratégico para
2010:
-
“Tornar a Europa na economia mais dinâmica e competitiva do mundo baseada no
conhecimento, capaz de garantir um crescimento económico sustentável, com mais
e melhores empregos e com maior coesão social” (Citado por Clímaco,2005).
A
concretização deste ambicioso objetivo implicaria a transformação da economia
europeia. Seria necessário envolver e corresponsabilizar todos os
estados-membros e estabelecer um programa de ação estimulante para modernizar
os sistemas de proteção social e de ensino (Clímaco: 2005), estabeleceu-se, uma
estratégia global que permitisse enfrentar com sucesso os novos desafios de uma
sociedade em transformação (idem).
Nos
anos seguintes foram envidados esforços no sentido de dar cumprimento a este
objetivo maior. As prioridades apresentadas estavam relacionadas com o combate ao
abandono escolar precoce dos jovens e à exclusão social. Adotaram-se medidas
comuns para a cooperação europeia, em matéria de avaliação da qualidade de
ensino.
A
educação foi considerada por todos «uma fonte de enriquecimento pessoal, mas
também um contributo para a coesão social, para a inclusão social e para a
solução dos problemas do trabalho e do emprego» (citado por Clímaco; 2005),
consequentemente as questões do ensino e da educação estão ligadas à qualidade
de vida dos cidadãos, sobretudo dos mais jovens.
Os
Estados-Membros consideraram que a abordagem a esta temática tinha que ser
global e coerente, implicando várias valências da vida social (Clímaco,2005). O
investimento económico a realizar seria substancial, ia acarretar um esforço
adicional e os resultados só seriam visíveis a longo prazo. Esta realidade
implicaria que a educação tinha que pressionar o setor das finanças
frequentemente para cumprir esta prioridade. Foram, então, estabelecidos três
objetivos estratégicos para os sistemas de educação e formação na Europa,
subdivididos em treze objetivos conexos/operacionais, a saber:
1- Aumentar a
qualidade e eficácia dos sistemas de educação e formação na EU:
1.1- Melhorar a
educação e formação dos professores e formadores;
1.2- Desenvolver
as competências necessárias à sociedade do conhecimento;
1.3- Assegurar o
acesso de todos às TIC;
1.4- Aumentar a
participação nos estudos científicos e técnicos;
1.5- Otimizar a
utilização dos recursos.
2-Facilitar o
acesso de todos aos sistemas de educação e formação:
2.1- Desenvolver um
ambiente aberto de aprendizagem;
2.2- Tornar a
aprendizagem mais atrativa;
2.3- Apoiar a
cidadania ativa, a igualdade de oportunidades e a coesão social.
3-Abrir ao
mundo exterior os sistemas de educação e de formação
3.1- Reforçar as
ligações com o mundo do trabalho, a investigação e a sociedade;
3.2- Desenvolver o espírito empresarial;
3.3- Melhorar a aprendizagem de línguas
estrangeiras;
3.4- Aumentar a mobilidade e os
intercâmbios;
3.5- Reforçar a cooperação europeia.
São objetivos direcionados para a
formação ao longo da vida que assentam nos quatro pilares da educação e que
permeiam a inovação, adaptação, adequação, flexibilidade, questionamento,
intervenção, participação, intercomunicação, aceitação do outro, negociação e
solidariedade. Esta nova perspectiva vai exigir à educação a
transmissão eficaz, de mais saberes e saber-fazer evolutivos, adaptados às
necessidades dos cidadãos, pois serão as bases das competências do futuro. A
educação deve surgir como uma experiência global a levar a cabo ao longo de
toda a vida, no plano teórico e prático, pelo indivíduo enquanto pessoa e
membro da sociedade. Esta conceção da educação deve permitir a todos descobrir,
reanimar e fortalecer o seu potencial criativo, revelar o tesouro escondido que
existe em cada um de nós; pressupondo que se ultrapasse a visão instrumental da
educação, via obrigatória para obter resultados (saber fazer, aquisição de
capacidades diversas, fins de ordens econômicas), e se, passe a considerá-la em
toda sua plenitude: realização da pessoa que, na sua totalidade aprende a ser. A educação deve
organizar-se em torno destas quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de
toda vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do conhecimento.
No
entanto, doze anos volvidos verifica-se que os estados-membros conseguiram
concretizar apenas algumas das medidas preconizadas e muitas delas, avulso,
para provocar pequenas fraturas e introduzir a mudança com o intuito de fazer
cumprir parcialmente o estabelecido. Esta realidade pode ser confirmada através
dos parcos progressos registados, quando aferidos aos
valores de referência fixados para a literacia, nomeadamente a redução do
abandono escolar precoce e a melhoria da participação nas escolas. Quando os
estados membros assumiram o compromisso de transformação e inovação, basearam
as suas decisões em projeções otimistas de uma economia capitalista, forte,
centrada nos serviços, geradora de riqueza e em franco crescimento, acreditaram
que esta lhes permitiria desenvolver um sem número de ações para melhorar o
estado social. Uma década depois, a implementação destas medidas encontra-se
seriamente comprometida e o estado social na Europa enfrenta dificuldades
ímpares porque o capitalismo está a deferir-lhe um do forte ataque.
Apesar
do distanciamento entre o compromisso assumido e a realidade, a educação continua a ser considerada uma ferramenta
essencial para garantir o desenvolvimento dos Estados-Membros e a concretização
dos objetivos da Estratégia de Lisboa para o Crescimento e o Emprego, uma meta
a alcançar.
Perante
este cenário de crise económica, temos que nos questionar sobre a viabilidade e
sustentabilidade das medidas preconizadas, nomeadamente as que estão
relacionadas com a educação, formação e pleno emprego. Será que as medidas foram
mal dimensionadas? Serão utópicas? Quais as medidas adequadas à nossa
realidade? Serão as assimetrias tão difíceis de ultrapassar? Não será possível
convertê-las em mais-valias? Será que o facto do centro de decisão estar muito
afastado das pessoas funciona como um obstáculo à implementação das medidas? Conseguirão
os estados-membros reunir esforços para em conjunto ultrapassar estas
dificuldades? Que nova ordem de valores surgirá desta crise?
O comissário Ján Figel declarou que os «nossos sistemas escolares
têm de se adaptar, se pretendem fornecer aos jovens novas competências para os
novos empregos» para «empregos que
podem ainda nem existir» e acrescentou que «o sucesso escolar dos alunos
determinam grandemente as oportunidades que terão mais tarde na vida, pelo que
devemos eliminar algumas das desigualdades existentes para tornar os nossos
sistemas escolares mais eficientes e eficazes. Uma forma de reduzir as
desigualdades é melhorar o acesso ao ensino e garantir que as escolas ensinem
as competências básicas aos jovens». Para o efeito estão a incentivar os
estados-membros a trabalharem juntos nesse sentido.
Só nos resta, acreditar que deste momento difícil vai renascer a
oportunidade para a concretização das medidas, qual Fénix …..
Bibliografia: Clímaco, Maria do Carmo, Avaliação de Sistemas em Educação, 2005,
Universidade Aberta
Netgafia: 4pilares.net/texto-cont/delors-pilares.htm,
acedido em 17/05/12
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