Ficha
de Leitura
Agenda
para Novas Competências e Empregos: Um contributo europeu para o pleno emprego
Introdução
A
União Europeia acordou uma meta de 75% para a taxa de emprego de homens e
mulheres no grupo etário 20-64 anos, a concretizar até 2020, assumindo um
compromisso ambicioso a favor da sustentabilidade do modelo social europeu, dos
sistemas previdenciais, do crescimento económico e das finanças públicas. Tendo
em conta o fosso existente entre os níveis registados e a meta definida, será
necessário que se verifique uma taxa de crescimento médio do emprego
ligeiramente superior a 1% ao ano para a mesma ser alcançada. A crise resultou
numa descida da taxa de emprego, ou seja num aumento da taxa de desemprego.
Com
as taxas de fertilidade em declínio, a população ativa da EU começará a
diminuir já em 2012, mesmo num cenário de fluxos migratórios contínuos. Neste
contexto a mão-de-obra especializada tornou-se essencial para desenvolver uma
economia competitiva, sustentável e inovadora e perante esta conjuntura de
condicionalismos orçamentais e pressões competitivas mundiais sem precedentes,
as políticas europeias de emprego e competências que contribuam para configurar
a transição para uma economia verde, inteligente e inovadora devem constituir
uma prioridade.
Prioridades:
-
Mercados de trabalho mais operacionais.
Taxas
de desemprego estrutural elevadas representam uma perda de capital humano e
conduzem a situações de exclusão social. As políticas de flexigurança
constituem o melhor instrumento para modernizar os mercados de trabalho. É
necessário revê-las e adaptá-las de modo a acelerar o ritmo das reformas,
reduzir a segmentação do mercado de trabalho e apoiar a igualdade entre homens
e mulheres.
-
Mão-de-obra mais qualificada, adaptável e capaz de contribuir para a
evolução tecnológica, com novos padrões de organização do trabalho. O
investimento em sistemas de educação e formação, a antecipação das necessidades
de competências, a criação de serviços de orientação e a adequação entre oferta
e procura no mercado laboral são os aspetos fundamentais para aumentar a produtividade,
a competitividade, o crescimento económico e, em última instância, o emprego.
A
UE está empenhada em melhorar os níveis de habilitações, reduzir o abandono
escolar precoce e aumentar do número de diplomas universitários até 2020. A
mobilidade no interior da UE e os fluxos migratórios de países terceiros tem
potencialidades que não são exploradas da melhor forma e não são adequadas às
necessidades do mercado de trabalho.
-
Empregos e condições de trabalho de maior qualidade.
Uma
maior qualidade dos empregos na UE está associada a uma elevada produtividade
laboral e participação no mercado laboral. Há que considerar as condições de
trabalho e a saúde física e mental dos trabalhadores para dar resposta aos
desafios das carreiras profissionais de hoje, que se caracterizam por um maior
número de transições entre postos de trabalho mais intensos e exigentes e por
novas formas de organização do trabalho.
-
Políticas mais determinadas para promover a criação de emprego e a procura
de mão-de-obra.
Há que estabelecer as condições
adequadas para criar mais empregos, em empresas que operam em modelos
empresariais onde as competências elevadas e a I&D são predominantes.
Reduções seletivas dos custos laborais indiretos ou a concessão de
subsídios de emprego bem direcionados podem constituir incentivos para
os empregadores recrutarem desempregados de longa duração e outros
trabalhadores que se afastam do mercado laboral. Para aumentar as taxas de emprego
são também essenciais políticas que explorem as principais fontes de criação de
postos de trabalho e promovam o empreendedorismo e o emprego independente.
Em
conformidade com o Tratado e o princípio da subsidiariedade, a principal
responsabilidade pela consecução destes objetivos incumbe aos Estados-Membros.
AS
PRIORIDADES DA AGENDA
1.
IMPRIMIR UMA NOVA DINÂMICA À FLEXIGURANÇA: REDUZIR A SEGMENTAÇÃO E FACILITAR AS
TRANSIÇÕES
Há indícios de que as políticas de flexigurança
contribuíram para atenuar os efeitos da crise. Vários Estados-Membros
subvencionaram novas disposições temporárias de redução do tempo de trabalho ou
alargaram o nível, a cobertura e a duração das já existentes, tornando a sua
utilização mais gerível. Ao aumentar a flexibilidade interna, os Estados-
Membros ajudar as empresas a evitar a perda de capital humano próprio e custos
de recontratação, contribuindo para mitigar as dificuldades com que se deparam
os trabalhadores.
As medidas ativas com incidência no mercado de
trabalho multiplicaram-se, incluindo incentivos à criação de empresas e
programas de formação e experiência profissional. Os serviços públicos de
emprego prestaram uma assistência mais direcionada à procura de emprego,
ajudando grupos específicos.
A crise veio evidenciar a necessidade urgente de
prosseguir as reformas do mercado de trabalho, sem reduzir o espaço de manobra
para gerar consensos e confiança entre os parceiros sociais, uma pré-condição
essencial para o êxito das políticas de flexigurança. As políticas para reduzir
a segmentação têm sido insuficientes e os jovens, os trabalhadores temporários
e os migrantes contam-se entre os mais gravemente atingidos pela recessão. No
pico da recessão, as perdas de emprego para os trabalhadores temporários foram
quase quatro vezes superiores às registadas pelas pessoas em empregos
permanentes. O desemprego disparou também entre a população migrante.
A crise veio igualmente demonstrar a dificuldade de
aplicar políticas verdadeiramente integradas. As disposições temporárias de
redução do tempo de trabalho não foram, complementadas com oportunidades de
formação para os trabalhadores.
Uma nova dinâmica: reforçar as componentes da
flexigurança e intensificar a sua aplicação
As quatro componentes da flexigurança-disposições
contratuais flexíveis e fiáveis, políticas ativas do mercado de trabalho, aprendizagem
ao longo da vida e sistemas modernos de segurança social - devem ser reforçadas
de modo a garantir que, no contexto pós-crise, os países se concentram nas reformas
mais eficazes em termos económicos, ao mesmo tempo que proporcionam melhor flexibilidade
e segurança.
Os Estados-Membros podem reforçar e adaptar os
mecanismos nacionais de flexigurança ao novo contexto socioeconómico, através
de um equilíbrio renovado. Há que reforçar as instituições do mercado de
trabalho, de forma a garantir que os trabalhadores beneficiam de oportunidades
para transitar entre empregos, profissões, sectores ou estatutos profissionais.
É essencial tornar estas transições compensadoras, de modo a dar aos trabalhadores
a segurança necessária para aceitarem a mobilidade e lidarem devidamente com
essa realidade.
1.1. Prioridades no reforço das quatro componentes da flexigurança
A Comissão propõe as
prioridades políticas a seguir indicadas para reforçar as quatro componentes da
flexigurança, em conjugação com os Estados- Membros:
Disposições contratuais flexíveis e fiáveis
- Privilegiar a redução da segmentação do mercado de
trabalho. Podem ser seguidas diversas vias, tais como a
descentralização da negociação coletiva ou a revisão das disposições
contratuais existentes, uma via promissora de debate é a introdução de disposições
contratuais sem termo certo (open-ended), com um período experimental
suficientemente longo e um aumento gradual dos direitos de proteção, acesso a
formações, aprendizagem ao longo da vida e orientação de carreira para todos os
trabalhadores. Esta solução teria por objetivo reduzir as divisões existentes
entre os trabalhadores com contratos temporários e os seus colegas vinculados
por contratos permanentes.
- Dar maior ênfase à flexibilidade interna em tempo de recessão
económica. A flexibilidade
interna pode ajudar os empregadores a ajustar o número de efetivos a uma
diminuição temporária da procura, preservando ao mesmo tempo postos de trabalho
que são viáveis a mais longo prazo e manter nas empresas trabalhadores com
competências específicas, cuja procura será elevada logo que a retoma se
afirme. Entre as formas de flexibilidade interna contam-se a adaptação da
organização do trabalho ou do tempo de trabalho. Não obstante a importância da
flexibilidade interna, a flexibilidade externa continua a ser essencial em caso
de necessidade de ajustamentos estruturais para permitir uma reafectação eficaz
de recursos.
Aprendizagem ao longo da vida:
- Melhorar o
acesso à aprendizagem ao longo da vida para ajudar as pessoas a passarem para sectores de grande valor
acrescentado e profissões em expansão, tais como as que resultam de políticas
de «crescimento sustentável», das políticas e legislação na área da igualdade
de oportunidades e as emergentes no sector médico-social. Percursos mais flexíveis
de aprendizagem podem facilitar as transições entre as fases de trabalho e
formação, através da modularização dos programas de aprendizagem.
Estes percursos devem também permitir a validação de
aprendizagens não formais e informais e ter por base os resultados da
aprendizagem, bem como a integração de sistemas de educação e formação e
orientação profissional.
- Adotar
abordagens dirigidas aos trabalhadores mais vulneráveis, em particular os pouco qualificados, os desempregados, os jovens e os
trabalhadores mais velhos, as pessoas com deficiência, as pessoas com perturbações
mentais ou os grupos minoritários, como os migrantes e os ciganos. Os serviços
públicos de emprego (SPE) devem proporcionar orientação de carreira e ministrar
formações bem direcionadas e adaptadas, bem como programas que visem a obtenção
de experiência profissional. Devem também merecer prioridade específica: i) a atualização de competências dos
trabalhadores mais velhos, que são particularmente vulneráveis à reestruturação
económica, ii) a reconversão das competências
dos pais e mães que regressam ao trabalho após um período a cuidar de familiares
dependentes e iii) a reconversão de
trabalhadores manuais tendo em vista a transição para «empregos verdes».
- Intensificar a
participação das partes interessadas e o diálogo social no que respeita à aplicação das estratégias de
aprendizagem ao longo da vida. A criação de parcerias regionais e locais entre
serviços públicos, profissionais de educação e formação e empregadores pode,
com eficácia, contribuir para identificar necessidades de formação, melhorar a
relevância da educação e da formação e facilitar o acesso dos indivíduos a
ações avançadas nestas áreas. O diálogo dos parceiros sociais é importante no
que respeita a mecanismos eficazes de partilha de custos, à provisão de
aprendizagem no local de trabalho e à promoção da cooperação entre as organizações
do sector público e as empresas.
- Instituir
incentivos e mecanismos eficazes de partilha de custos para rentabilizar os investimentos públicos e privados
na formação contínua da mão-de-obra e aumentar a participação dos trabalhadores
em ações de aprendizagem ao longo da vida. As medidas poderão incluir
benefícios fiscais, programas de cheques-educação destinados a grupos
específicos e contas de aprendizagem ou outros instrumentos pelos quais os
trabalhadores possam acumular tempo e dinheiro.
Políticas ativas do mercado de trabalho
- Adaptar o
conjunto de políticas ativas do mercado de trabalho e respectivo quadro
institucional para reduzir o risco de desemprego de longa duração:
- Aconselhamento individual
em matéria de emprego, assistência na procura de trabalho e medidas para
melhorar as competências e a empregabilidade. A relação custo eficácia
destas medidas e a condicionalidade das prestações de desemprego à participação
em ações deste tipo são áreas que exigem maior atenção. Estas medidas do
lado da oferta de mão-de-obra podem não ser suficientes se o ritmo a que são
criados empregos for lento; nesse caso, devem ser complementadas por
medidas do lado da procura, tais como subsídios específicos à
contratação que sejam eficazes em termos económicos. Para minimizar os
encargos para as finanças públicas, estes subsídios devem concentrar-se
na criação líquida de empregos e nos trabalhadores difíceis de colocar, como
é o caso dos que possuem baixas competências e pouca experiência.
Sistemas de segurança social modernos:
- Reformar os regimes
de prestações de desemprego para tornar o seu nível e a sua cobertura mais
facilmente ajustável ao longo do ciclo empresarial (isto é, proporcionar mais recursos em
conjunturas negativas e menos em tempos favoráveis). Tal poderá reforçar
o papel das prestações enquanto estabilizadores automáticos, privilegiando, em
períodos de recessão, garantias de rendimento. À medida que os
mercados de trabalho recuperam, os Estados-Membros deverão considerar a eliminação
progressiva de medidas como a extensão temporária das prestações e da duração
do seguro de desemprego introduzidas durante a recessão, de modo a evitar
efeitos negativos nos incentivos ao reemprego. A revisão das prestações
concedidas às pessoas ativas e inativas no intuito de melhorar os incentivos
financeiros ao exercício de uma atividade deve ser combinada com medidas
destinadas a promover a adesão a ações de formação e a outros mecanismos de
ativação, sem deixar de garantir que as prestações continuam a ser uma medida
de atenuação da pobreza para os que permanecem fora do mercado de trabalho.
- Melhorar a
cobertura das prestações para as pessoas em maior risco de desemprego, tais como os trabalhadores a termo certo, os jovens nos seus primeiros
empregos e os trabalhadores por conta própria. Tal pode ser concretizado,
quando necessário, através do alargamento da cobertura dos regimes de
prestações de desemprego e do reforço de outros direitos de segurança social
(licença parental e outras licenças ligadas à conciliação trabalho-família,
licença por doença, prestações de invalidez, etc.); o nível das prestações de
desemprego deve estar ligado à carreira profissional de cada um.
- Rever o
regime de pensões para garantir pensões adequadas e sustentáveis para as
pessoas que têm lapsos nas respectivas carreiras contributivas devido a períodos de desemprego, doença e prestação de cuidados ou a
contratos de curta duração. As reformas das pensões devem andar a par de
políticas de apoio às transições no mercado de trabalho das pessoas mais
velhas, em especial as que regressam à vida ativa depois de uma situação
de desemprego.
1.2. Prioridades para melhorar a aplicação, o acompanhamento
e a governação das estratégias de flexigurança
As estratégias de antecipação permitem ter em conta as
necessidades decorrentes da transição para uma economia de baixo teor de carbono
e de sectores com capacidades excedentes estruturais. Podem também ajudar a
evitar conflitos sociais por via da gestão negociada de operações de
reestruturação, desenvolvendo por exemplo formações profissionais e
reconversões económicas. Os serviços de emprego, e em particular os serviços
públicos de emprego (SPE), podem agir como agências de transição, reforçando a
sua prestação de serviços. Os serviços de emprego podem desempenhar um papel
mais abrangente de prestadores de serviços permanentes na área da avaliação de
competências, definição de perfis, formação, orientação profissional
personalizada, aconselhamento de clientes (trabalhadores e empregadores) e
correspondência de pessoas a perfis de empregos; podem, assim, oferecer
serviços aos empregadores ao mesmo tempo que dão solução aos problemas que
enfrentam as pessoas mais afastadas do mercado de trabalho. Os serviços de
emprego podem também promover parcerias entre e nos serviços (serviços de
emprego dos sectores público e privado e do terceiro sector), estabelecimentos
de ensino e formação, ONG e instituições de previdência.
2.
DOTAR AS PESSOAS DAS
COMPETÊNCIAS CERTAS PARA O EMPREGO
- Fazer corresponder a oferta de competências com as
necessidades do mercado trabalho continua a ser um desafio
As perspectivas a longo prazo evidenciam também a
importância das competências. Espera-se que na UE os empregos exercidos por
pessoas com qualificações elevadas aumentem até 2020, enquanto os que são
ocupados por trabalhadores pouco qualificados venham a registar um declínio de
cerca de 12 milhões. São demasiadas as pessoas que não têm as competências
necessárias para singrarem no mercado de trabalho: os adultos com baixas
habilitações escolares têm sete vezes menos probabilidades de participar em
ações de educação e formação contínuas do que os que possuem habilitações
elevadas e, em consequência, deparam-se com cada vez maiores dificuldades para
se adaptarem às necessidades de competências agora emergentes e em constante
evolução.
Lacunas graves de profissionais qualificados com
competências técnicas e de gestão específicas a determinados empregos estão a
impedir a Europa de alcançar os seus objetivos em matéria de crescimento
sustentável. Este problema de escassez de competências também se verifica em
áreas críticas para a inovação, em especial as ciências, a tecnologia, a
engenharia e a matemática. Na verdade, há que operar investimentos
significativos em competências «verdes» para garantir que a Europa consegue
concretizar a ambição de dispor de três milhões de «empregos verdes» até 2020.
Até 2015, registar-se-á uma escassez de profissionais das TIC pondo em perigo o
próprio sector mas também a disseminação das TIC a todos os sectores da
economia. Acresce que mais de 30% dos europeus raramente ou nunca usaram a Internet,
o que prejudica as respectivas oportunidades de emprego, uma vez que a maioria
dos empregos já exige cibercompetências.
Até 2020, estima-se que o sector da saúde venha a
registar uma escassez de cerca de um milhão de profissionais, e até mesmo dois
milhões se forem consideradas as profissões relacionadas com os cuidados, o que
perfaz 15% das necessidades de cuidados na UE. É necessário mais um milhão de
investigadores para poder concretizar as nossas ambições de criar uma União da
Inovação.
A não correspondência entre oferta e procura de
competências tem também uma vertente geográfica: as lacunas e os
estrangulamentos de competências em áreas de grande crescimento coexistem com
zonas de desemprego persistentemente elevado. No entanto, a mobilidade continua
a registar níveis muito baixos na EU. A migração económica está também a
assumir importância estratégica para solucionar o problema da escassez de competências.
No entanto, os trabalhadores migrantes qualificados ocupam muitas vezes
empregos pouco especializados e de baixa qualidade, o que evidencia a
necessidade de gerir mais eficazmente o potencial e as competências destas
pessoas.
- Reforçar a capacidade de a União antecipar e adequar
as competências às necessidades do mercado de trabalho
As iniciativas empreendidas pelos
Estados-Membros para aumentar os níveis de competências devem ser
complementadas por uma ação europeia, com uma forte tónica na mobilidade geográfica
como mecanismo de ajustamento, de modo a atenuar os focos regionais de desemprego
e dar resposta às necessidades do mercado.
2.1. Desenvolver as informações sobre o mercado de
trabalho e a governação das competências
A maioria dos Estados-Membros recolhe as suas
informações sobre o mercado de trabalho através de organismos do tipo
observatórios, que congregam agentes do mercado de trabalho e estabelecimentos
de ensino e formação.
Estas análises contribuem para dar forma a normas de
qualificação e adaptar os sistemas de formação às necessidades do mercado.
Não obstante, há ainda ampla margem de manobra para
continuar a desenvolver as ferramentas prospetivas existentes do mercado de
trabalho a nível nacional, regional, setorial e europeu e disseminar os seus
resultados de modo a dar respostas mais eficazes às lacunas de competências.
2.2. Proporcionar o conjunto adequado de competências
Independentemente da idade, género, origem
socioeconómica, etnia ou deficiência, todos os cidadãos da UE devem ter a
oportunidade de adquirir e desenvolver o conjunto de conhecimentos,
competências e aptidões de que necessitam para serem bem-sucedidos no mercado
de trabalho.
Para tal, os sistemas de ensino e formação devem
oferecer o conjunto certo de aptidões, incluindo competências digitais e
transversais fundamentais, literacia mediática e comunicação em línguas
estrangeiras. Devem também garantir que, ao acabar os estudos secundários e
superiores, os jovens possuem as competências e aptidões necessárias para
transitarem rapidamente e sem problemas para o mundo do emprego. O combate ao
abandono escolar precoce e às baixas habilitações em áreas básicas como a
literacia, a numeracia e as ciências, também entre os adultos, é um elemento
essencial para as estratégias de inclusão, emprego e crescimento. A formação
contínua deve chegar ao nível do parâmetro de referência para a participação
dos adultos em ações de aprendizagem ao longo da vida.
Os Estados-Membros devem acelerar o ritmo das reformas
e instituir quadros nacionais de qualificações assentes em resultados da
aprendizagem, tal como se refere na recomendação sobre o quadro europeu de
qualificações. Os esforços devem orientar-se para a promoção da literacia
digital básica para as pessoas menos habilitadas nesta área, como os idosos, as
pessoas menos instruídas ou os trabalhadores de PME, mas também para o fomento
de competências especializadas e avançadas em TIC para os que possuem perfis de
emprego específicos, como é o caso dos profissionais das TIC.
2.3. Fazer corresponder as competências das pessoas às
oportunidades de emprego e explorar os empregos potenciais da Europa
É essencial evitar a subutilização dos talentos e potencialidades
das pessoas. Tal implica uma melhor cooperação entre os mundos do trabalho, da
educação e da formação e uma maior transparência no mercado de trabalho, indo
para além das abordagens tradicionais que medem as competências apenas por
referência a qualificações formais.
A passagem para abordagens assentes nas competências e
aptidões está já a traduzir-se em mudanças significativas nos sistemas de
ensino e nos mercados de trabalho, bem como na forma como interagem. Este facto
tem importantes implicações para o trabalho dos serviços de emprego nas áreas
de avaliação de competências, definição de perfis, formação, cooperação com os
prestadores de formação, orientação profissional e aconselhamento de clientes
(incluindo empregadores). Há que reforçar a cooperação entre os serviços de
emprego e os centros de orientação na área da educação, para que estes últimos
sejam capazes de prestar conselhos relevantes para o mercado de trabalho.
Há que incentivar os empregadores a co investir e
participar nas atividades das instituições de ensino e formação, em especial no
ensino superior e na educação e formação profissionais. Estas parcerias
encerram o potencial de desenvolver e atualizar perfis de competências,
programas escolares e qualificações multidisciplinares e facilitar a provisão
de aprendizagens ligadas ao trabalho, que vão de programas de estágio a
doutoramentos em áreas ligadas à indústria. Estas parcerias estruturadas
poderão constituir um meio eficaz e sistemático de desenvolver esta interação.
Para colmatar o fosso entre as competências e os
empregos futuros e tornar os sistemas de ensino mais reativos às necessidades
da nossa economia há que promover novas
especializações académicas para alcançar uma massa crítica capaz de aumentar a
competitividade da Europa.
2.4. Intensificar a mobilidade geográfica na EU
Vários fatores de natureza não regulamentar
influenciam a mobilidade inter-regional e transnacional: a habitação, a língua,
as oportunidades de emprego para os parceiros, os mecanismos que regem o
regresso dos trabalhadores migrantes ao país de origem, «barreiras» históricas
e o reconhecimento da experiência de mobilidade. Os recentes esforços para
melhorar a mobilidade geográfica concentraram-se na supressão de obstáculos de
ordem jurídica e administrativa. É necessário informar os cidadãos sobre estas
mudanças para que possam, com confiança, lançar-se em aventuras profissionais
transfronteiras. Importa também agir com determinação para aumentar a
transparência das ofertas de emprego na UE.
Alguns profissionais ainda se queixam da morosidade e
complexidade dos procedimentos de reconhecimento das suas qualificações. A
Comissão está a rever a diretiva «Qualificações Profissionais» no intuito de
identificar soluções possíveis, como a criação de uma carteira profissional, e
simplificar a situação vigente.
2.5. Aproveitar as potencialidades da migração
Para maximizar o potencial contributo da migração para
o pleno emprego, há que integrar mais eficazmente os migrantes que já residem
legalmente na UE, em especial através da supressão de barreiras ao emprego,
tais como a discriminação ou o não reconhecimento de competências e
qualificações, que os colocam em risco de desemprego e exclusão social. Processos
mais eficazes de acompanhamento e antecipação das necessidades de competências,
bem como melhorias no reconhecimento de competências e qualificações, mesmo as
obtidas fora da UE, podem reduzir substancialmente o «desperdício de cérebros» de
migrantes altamente instruídos em empregos pouco qualificados e de baixa
qualidade. Uma política de admissão flexível e orientada pela procura poderá
contribuir significativamente para prover às necessidades futuras de mão-de- obra.
A adequação das competências pode também ser melhorada por via do reforço da cooperação
com países terceiros em áreas como o reconhecimento de competências, a partilha
de informações sobre as necessidades do mercado de trabalho e da colaboração
com agências de recrutamento e emprego.
3. MELHORAR A
QUALIDADE DO TRABALHO E DAS CONDIÇÕES LABORAIS
- Resultados díspares em matéria de qualidade dos
empregos na UE na última década
Uma boa qualidade dos empregos anda a par de uma
participação elevada na vida ativa. Tal deve-se ao facto de o ambiente de
trabalho desempenhar um papel crucial para aumentar o potencial da mão-de-obra,
constituindo um dos principais fatores da competitividade. Para poderem inovar
e obter resultados rápidos e eficazes, as empresas da UE dependem, para
sobreviver e expandir a sua atividade, de uma mão-de-obra empenhada e
realizada, num ambiente de trabalho de qualidade e condições laborais seguras e
saudáveis.
Em muitos países, o trabalho não declarado continua a
deixar importantes segmentos da mão-de-obra desprotegidos e vulneráveis.
Devido à crise, muitos empregos foram expostos a
pressões competitivas e à deterioração das condições de trabalho. Em muitos
casos, novas formas de trabalho e mais transições entre empregos não foram
acompanhadas das condições laborais adequadas, aumentando o stress psicológico
e perturbações de ordem psicossocial. Esta situação tem custos sociais e
económicos e pode prejudicar a capacidade competitiva da Europa: ambientes de
trabalho sem as devidas condições de saúde e segurança resultam em mais pedidos
de prestações de invalidez e em saídas precoces da vida ativa.
- Rever a legislação da UE e promover instrumentos não
vinculativos
A legislação a nível da UE nem sempre é suficiente. A
existência de instrumentos não vinculativos do tipo análises comparativas,
coordenação política, intercâmbio de boas práticas, comparações de resultados,
guias de aplicação, quadros de ação, códigos de conduta e recomendações podem
contribuir significativamente para formar consensos e criar os incentivos
adequados à tomada de ação a nível nacional ou das empresas.
3.1. Um quadro normativo europeu mais inteligente a
favor do emprego e da saúde e segurança no trabalho
Depois de uma
avaliação adequada, a Comissão irá propor as alterações. Esta avaliação
exaustiva não impedirá a preparação de novas propostas legislativas, caso venha
a ser necessária uma ação imediata e se justifiquem novas disposições na
sequência de uma avaliação profunda do seu impacto económico e social.
.
3.2. Uma abordagem estratégica com base em
instrumentos não vinculativos
Através do diálogo social europeu, os parceiros
sociais sectoriais e intersectoriais desenvolveram também um importante
conjunto de instrumentos não vinculativos, incluindo acordos autónomos que
contribuem para melhorar as normas laborais e produzem um impacto direto e
concreto nas condições de trabalho dos trabalhadores na UE. O trabalho não
declarado, incluindo as situações em que os empregadores classificam incorretamente
trabalhadores por conta de outrem como contratantes independentes, continua a
alastrar e reveste cada vez mais uma dimensão transfronteiriça. É necessário trabalhar
para reforçar a cooperação a nível da UE entre inspeções do trabalho e outras entidades
cuja missão é controlar a aplicação da legislação laboral.
É ainda preciso envidar esforços para rever a
definição e os indicadores comuns da UE de qualidade do trabalho, tornando-os
mais operacionais. Em especial, a abordagem da qualidade do trabalho deverão
ser reexaminados os princípios de flexigurança e as estratégias para tornar as
transições compensadoras e o desenvolvimento de novas modalidades de trabalho.
4. APOIAR A CRIAÇÃO
DE EMPREGO
- A crise económica teve um impacto dramático na
criação de emprego, mas alguns obstáculos à procura de mão-de-obra são de
natureza estrutural
A retoma deve assentar na criação de postos de
trabalho, o que depende sobretudo do crescimento económico.
O estímulo ao crescimento pode não bastar para criar
mais e melhores empregos; o clima empresarial tem de ser propício à criação de
postos de trabalho.
Mais de 99% das empresas da UE são PME. São muito
poucas as PME inovadoras que evoluem para empresas de maior dimensão com mais
trabalhadores. Há também menos jovens empresas inovadoras e de intensa
atividade de I&D na UE do que nos EUA. Lacunas importantes em termos de
inovação e cibercompetências impedem as PME de adotar modelos empresariais
inovadores e inteligentes e novas tecnologias.
- Repor a criação de empregos para garantir que todos
os que querem trabalhar podem fazê-lo.
O crescimento económico continua a ser o principal
motor de criação de emprego.
A Comissão prestará atenção especial ao
empreendedorismo e ao emprego independente enquanto veículos essenciais para
aumentar as taxas de emprego. Todas as iniciativas respeitarão o princípio «think
small first», de modo a ter em conta as características específicas das
PME.
4.1. Reforçar as condições globais para a criação de
emprego
Neste contexto, há que multiplicar os investimentos
para aumentar o número de diplomados nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia
e matemática e criar as condições certas para aplicar tecnologias facilitadoras,
essenciais às estratégias de I&D e inovação na indústria e nos serviços.
Estimular o recrutamento por via de uma redução dos
custos laborais não salariais é fundamental em conjunturas de elevado
desemprego, uma vez que os custos dos sistemas de seguro de desemprego serão
muito provavelmente superiores à perda de receitas dos regimes de segurança
social. Este aspeto é particularmente importante para as pessoas que se deparam
com dificuldades especiais em encontrar novos empregos após a recessão, como é
o caso dos trabalhadores pouco qualificados ou os desempregados de longa
duração. Afigura-se igualmente vital a criação de incentivos para transferir
postos de trabalho da economia informal para a economia regular. Uma via a
explorar é a criação de empregos declarados em serviços domésticos, cuidados
sociais e outras atividades não lucrativas, proporcionando uma importante porta
de entrada no mercado de trabalho para os que dele estão mais afastados.
4.2. Promover o empreendedorismo, o emprego
independente e a inovação
As empresas da economia social, as cooperativas, as
sociedades mutualistas e as microempresas, incluindo o emprego independente,
podem constituir uma fonte de soluções inovadoras para dar resposta a necessidades
sociais num processo participativo, proporcionando oportunidades de emprego
específicas para as pessoas mais afastadas do mercado laboral. A comunicação da
Comissão sobre o «Ato para o Mercado Único» anunciou já um conjunto de ações
que visam o desenvolvimento do sector da economia social e das empresas
sociais, tais como a iniciativa em favor do empreendedorismo social ou a
consulta pública sobre a aplicação do regulamento sobre o estatuto da
cooperativa europeia. O Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia
(IET) fomentará a criação e o desenvolvimento de empresas através
de atividades de investigação orientadas para a inovação, com uma
forte tónica no empreendedorismo.
O empreendedorismo deve tornar-se um meio mais comum
de criar empregos e combater a exclusão social. Há que privilegiar a formação,
de modo a garantir que os sistemas de ensino fornecem as bases para incentivar
o aparecimento de novos empresários e que as pessoas que pretendam começar e
gerir uma PME adquiram as devidas competências para o fazerem. Os
Estados-Membros devem fomentar o espírito empreendedor nos programas escolares,
a fim de criar uma massa crítica de professores nesta área, e promover a
colaboração transfronteiras entre universidades e centros de investigação no
domínio da inovação e do empreendedorismo.
INSTRUMENTOS
FINANCEIROS DA UE AO SERVIÇO DAS NOVAS COMPETÊNCIAS E EMPREGOS
A política de coesão contribui para o desenvolvimento
de novas competências e a criação de emprego, designadamente no domínio da
economia verde agora em expansão.
CONCLUSÃO
A aplicação e a participação são essenciais para o
êxito da Agenda.
Os parceiros sociais desempenham um papel fundamental
na aplicação dos aspetos de flexigurança e outros elementos da presente
iniciativa.
Os fundos estruturais, em particular o Fundo Social
Europeu, podem contribuir de forma significativa para a
Agenda da UE e agir como catalisadores e alavancas das prioridades políticas da
União.
A Comissão desenvolverá igualmente a dimensão
internacional da presente Agenda.
A crise provocou a emergência de um consenso global em
torno de objetivos económicos e financeiros que coexistam, em pé de igualdade,
com as metas sociais e de emprego. Agora que a retoma começa a tomar forma, a
Comissão irá incentivar a congregação de recursos a nível internacional, no
âmbito de fóruns multilaterais (OIT, G20, OCDE e ONU), de estruturas de
cooperação bilaterais já existentes com parceiros estratégicos (designadamente
EUA, Canadá, China, Índia, Japão, África do Sul, Rússia e Brasil) e de quadros
de política regional (ASEM e UE-América Latina).
Netgrafia : Comunicação
da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social
europeu e ao Comité das regiões
Agenda para novas
competências e empregos: Um contributo europeu para o pleno emprego, Estrasburgo, 23.11.2010
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